Título: Saúde muda critérios e surto de dengue acaba
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 23/03/2011, Rio, p. 21

Ao analisar números da doença com outros métodos, secretaria tira 14 bairros da lista de áreas em situação gravíssima

Os 14 bairros do Rio que enfrentavam até anteontem um surto de dengue se livraram ontem do problema. A reviravolta, um dia depois de a primeira área da Zona Sul - Cosme Velho - ter sido incluída na lista de locais em situação gravíssima, aconteceu porque os epidemiologistas da Secretaria municipal de Saúde passaram a analisar as estatísticas usando mais critérios para definir as áreas com maior risco. Em vez de levarem em consideração apenas a taxa de incidência superior a 300 casos por cem mil habitantes, que era indicativo de surto e atingia 14 bairros, passaram a observar também a curva dos registros - um método considerado mais moderno.

Isto significa que uma área só pode ser considerada em surto se, além da taxa acima de 300 casos por cem mil, estiver tendo, nas últimas cinco semanas de análise, uma curva ascendente no número de registros. Se, durante as cinco semanas, duas delas não tiveram crescimento, a curva não pode ser considerada ascendente e, portanto, não há surto. Foi ao fechar ontem o balanço das últimas semanas que os 14 bairros com surto deixaram de tê-lo.

Menina morre de dengue hemorrágica em Santa Cruz

Uma criança de 1 ano e 9 meses é a mais recente vítima da doença no Rio. Maria Clara Silva Martins, que morava em Nova Iguaçu, morreu na noite de anteontem no Hospital Cemeru, em Santa Cruz, na Zona Oeste. A menina foi atendida pela primeira vez na unidade na última quinta-feira. Segundo o hospital, a família de Maria Clara relatou que ela estava com febre, mas, no momento do atendimento, a criança não apresentava o problema. A pediatra receitou remédios e a mandou para casa. No domingo, a mãe de Maria Clara retornou ao Cemeru com a filha, já em estado grave.

Prostrada e vomitando, a menina foi internada na UTI pediátrica e morreu no dia seguinte, ao ter duas paradas cardíacas. Ela foi sepultada ontem. Maria Clara morreu em consequência de dengue hemorrágica, dois dias depois de a doença ter também tirado a vida de um bebê de 9 meses, morador do Rocha, que estava no Hospital Quinta D"Or.

Inconformada, a mãe de Maria Clara, Maria das Graças Silva Martins, de 45 anos, disse que os dois médicos que atenderam a criança não diagnosticaram dengue em nenhum momento.

- Na primeira vez em que levei minha filha lá, ela estava com 40 graus de febre. A doutora disse que era uma inflamação na garganta. Minha filha tinha febre alta, não parava de gemer de dor. Ela se esticava toda, com os olhos esbugalhados. Eu disse à doutora que não era possível que nenhum dos remédios que ela dava estava fazendo efeito. Até convulsão minha filha teve. E a médica disse que era infecção na garganta, depois desidratação e dor abdominal.

A administração do hospital divulgou uma nota confirmando a morte de Maria Clara por dengue hemorrágica e negou qualquer erro médico.

Até agora, a capital registrou seis óbitos por dengue em 2011. O caso de Maria Clara será computado na estatística de Nova Iguaçu, onde ela morava. Em todo o estado, já são 14 mortes.

No Estado do Rio, o número de casos já passa de 20 mil. Na capital, foram notificados, de janeiro até ontem, 8.315 casos de dengue. O número já supera a soma dos registros de 2009 e 2010, que é de 5.843 vítimas.

Vírus 4 é identificado em duas vítimas de Salvador

A situação no Rio pode piorar se o vírus 4 da dengue, que até hoje nunca circulou na Região Sudeste, chegar ao estado. O risco aumentou porque ontem foram confirmados dois casos por vírus 4 em Salvador, na Bahia. Toda a população do Rio é suscetível ao vírus, que pode causar, portanto, uma epidemia.