Título: Patriota: pretensão do Brasil à ONU não foi afetada
Autor: Freire, Flávio; Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 23/03/2011, O Mundo, p. 31

Dilma e chanceler defendem uma solução pacífica para a Líbia e temem por população civil

MANAUS E SÃO PAULO. A presidente Dilma Rousseff e o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, reafirmaram ontem que o Brasil deseja um cessar-fogo imediato na Líbia, tanto por parte das tropas de Muamar Kadafi quanto por parte da coalizão liderada pelos Estados Unidos e França, que segundo o governo brasileiro vem colocando em risco a população líbia.

A presidente confirmou em Manaus a posição do governo em relação ao conflito na Líbia. Na segunda-feira, em comunicado distribuído pelo Itamaraty, o país se posicionou a favor de um cessar-fogo na região, em conflito desde que rebeldes tomaram conta das ruas pedindo a saída do ditador Muamar Kadafi. Depois de participar de um evento em que lançou um programa de combate ao câncer do colo de útero e mama, em Manaus, Dilma disse que o Brasil é a favor de uma solução pacífica.

- Essa é a nossa posição desde que votamos na ONU. Ou seja, a favor de uma solução pacífica. E diante de tudo, essa é a nossa posição, assim como de países como a Alemanha, a China e a Rússia - disse a presidente.

Elogios a declaração de Obama sobre conselho

Na verdade, o Brasil não votou, mas se absteve na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas que decidiu sobre a criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia.

Mais tarde, em São Paulo, Patriota disse que os acontecimentos na Líbia preocupam o Brasil, e espera que haja o mínimo de violência possível. Ele lembrou que o Brasil decidiu se abster da decisão do Conselho de Segurança - que culminou com a ação militar de países aliados contra a Líbia - por discordar do uso da força e se preocupar com a proteção da população civil do país. Na opinião do ministro, as decisões do Brasil sobre o uso de força na Líbia não vão afetar as pretensões brasileiras a uma cadeira permanente ao Conselho de Segurança da ONU.

- Isso não afeta. Pode pesar na simpatia, nos apoios que determinados setores de um país manifestarão, mas o que caracteriza o Brasil é que somos uma potência com credenciais extraordinárias na promoção da paz internacional. Somos um país desnuclearizado, sem inimigos no mundo - disse.

O ministro das Relações Exteriores afirmou que foi um passo importante o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter declarado que tem apreço pelo anseio de participar mais ativamente no Conselho de Segurança da ONU.

- Obama reconheceu as dificuldades sobre isso (uma reforma do conselho) e disse que vai acontecer. Ele disse que viu com apreço a nossa posição, e isso foi um passo importante - afirmou Patriota.

Ministro defende redução de participação externa na área

Ao ser questionado, em palestra na Universidade de São Paulo (USP), sobre o fato de o Brasil ter solicitado um cessar-fogo depois de se abster de votar, Patriota reforçou que repudia a violência.

- O que está acontecendo na Líbia é a utilização da força por um governante contra manifestantes desarmados, e isso só pode despertar reações de repúdio e de rejeição, e foi nesses termos que nós nos expressamos - disse Patriota.

No discurso para estudantes, Patriota ressaltou diversas vezes a necessidade dos próprios povos do Oriente Médio lutarem pelas suas democracias. O chanceler ainda falou da necessidade de reduzir ao mínimo "a participação de atores externos em conflitos internos na região".