Título: Fichas-sujas terão sobrevida pública
Autor: Tinoco, Dandara; Bruno, Cássio
Fonte: O Globo, 24/03/2011, Opinião, p. 9

DECISÃO NO SUPREMO

Idealizadores da lei lamentam resultado, mas dizem que mudança marcará eleição de 2012

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pela aplicação da Lei da Ficha Limpa apenas a partir das eleições de 2012 foi lamentada por integrantes do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE). O grupo, composto por 50 entidades, foi responsável pelo projeto de iniciativa popular que resultou na lei. Foram recolhidas 1,6 milhão de assinaturas a favor da proposta.

- Todos os membros do movimento estão extremamente tristes. Não tem como não lamentar o ingresso no Parlamento de pessoas que não possuem ética. É lamentável que tenha havido sobrevida pública para essas pessoas - disse o juiz Márlon Reis, membro do MCCE.

A declaração foi dada antes mesmo de a votação ser encerrada. Pouco depois de Luiz Fux dar o seu parecer, Reis, sem esconder a decepção, disse que o grupo sempre "manteve expectativas sem apostas" em relação ao novo ministro. O juiz ressaltou, no entanto, que, para ele, a lei será uma das principais marcas das eleições de 2012:

- Para nós, existe a certeza de que a lei vai marcar profundamente a eleição de 2012, até por conta da natureza da eleição municipal, que reúne ainda mais candidatos com fichas sujas e maiores casos de desvios. E não temos nem um segundo para gastar com lamentações. Já estamos no centro de outra discussão: a da reforma política - afirmou, acrescentando que hoje o MCCE participa de uma reunião sobre o assunto na Câmara dos Deputados.

Para Jovita Rosa, uma das diretoras do movimento, a decisão do STF foi um retrocesso:

- Fiquei triste, mas isso demonstra que nós temos muito a avançar e que a necessidade de uma reforma política é grande. É como se déssemos cinco passos para a frente e dois para trás. Mas sabemos que a democracia foi conquistada aos poucos.

Os membros do MCCE assistiram à votação à distância. Eles estiveram ontem no Rio para receber o Prêmio Faz Diferença, do GLOBO.

- Como toda a sociedade, queríamos que a lei estivesse valendo para 2010, até porque, através dela, muitos políticos foram barrados pelo voto (dos eleitores) e pela Justiça - disse Osiris Barbosa, também diretor do grupo, durante o prêmio.