Título: Para aliados, operação bilionária
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 24/03/2011, O Mundo, p. 29

WASHINGTON e PARIS. Um míssil Tomahawk custa mais de US$1 milhão aos Estados Unidos. Uma hora de voo do caça Rafale ¿ aquele que a França deseja vender ao Brasil ¿ não sai por menos de US$15 mil. E para manter o submarino HMS Triumph nas águas do Mediterrâneo os britânicos desembolsam US$700 mil ao dia. Ninguém sabe quanto tempo a ofensiva contra a Líbia vai durar, mas uma coisa é certa: os gastos são altos. Baseados em informações do Pentágono, especialistas estimam entre US$400 milhões e US$800 milhões os custos iniciais da operação. Segundo o Centro de Avaliações Estratégicas de Orçamento, as despesas dos EUA nos primeiros três dias de ataques superaram US$225 milhões. A manutenção da operação Odisseia da Alvorada exigirá dos cofres até US$100 milhões por semana. A maior fatia da fatura provém de gastos com combustíveis, munições e pagamento extra de combate aos pilotos. Só o voo dos bombardeiros B-2 tem um custo de US$80 mil a hora. Além dos bombardeiros e dos caças F-15 e F-16, a Marinha mantém mais de dez embarcações no Mediterrâneo. Na previsão do ex-tesoureiro do Pentágono Dov Zakheim, o montante poderá facilmente alcançar US$1 bilhão, o que exigiria a aprovação de fundos adicionais pelo Congresso. Com uma acirrada discussão sobre o orçamento, a guerra autorizada por Barack Obama, sem consulta prévia ao Congresso, tem sido atacada por parlamentares da oposição e também por democratas. Ontem, o líder da maioria na Câmara, John Boehner, enviou uma carta exigindo uma definição clara sobre a missão. Antes, o deputado democrata Dennis Kucinich questionara a autoridade constitucional do presidente e aventou, inclusive, a possibilidade de impeachment. Somente em 72 horas, a França teria gasto entre US$6 milhões e US$7 milhões para sobrevoar a Líbia com seus Rafale e Mirage, segundo uma estimativa que tem por base as horas de voo ¿ 400 horas. Isso sem contar o preço do combustível. Os Rafale carregam mísseis que custam US$355 mil cada. A conta não para ai: o porta-aviões Charles de Gaulle tem uma tripulação de duas mil pessoas. Já os britânicos esperam gasto de dezenas de milhões de dólares, num momento em que o Ministério da Defesa, com problemas no orçamento, escolhe que serviços cortar. Os quatro aviões Tornado GR4s queimam US$57 mil a cada hora de voo. E só no fim de semana foram oito horas. Cada míssil disparado: US$1,2 milhão extra. Embora o premier David Cameron tenha obtido apoio maciço à ofensiva, parlamentares já demonstram preocupação com os gastos.