Título: Aedes voa a 25 doentes por hora
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 26/03/2011, Rio, p. 16

O mosquito da dengue tem voado cada vez mais alto no Rio. Ontem, a capital ultrapassou o número de dez mil casos da doença desde o início do ano. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, já são 10.158 vítimas na cidade. Um dia antes, eram 9.559 infectados, uma diferença, em 24 horas, de 599 casos. Isso significa que, a cada hora, quase 25 pessoas são picadas pelo Aedes aegypti. Em todo o estado, pelo último balanço, divulgado na quarta-feira, já são 26.258 doentes.

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, nenhuma área da cidade está enfrentando um surto de dengue. Pelos dados divulgados ontem, no entanto, é possível perceber que determinados locais estão sofrendo mais com a doença. A Área de Planejamento 3.3, que engloba, entre outros, os bairros de Irajá, Madureira, Pavuna e Acari, é a que registrou mais ocorrências (1.584 casos). Grande parte deles ocorreu em Madureira, que tem 485 vítimas.

Em seguida vem Ricardo de Albuq u e r q u e , c o m 388. A segunda região da cidade com mais casos é a Área de Planejamento 4, da qual fazem parte Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Recreio e Vargens Grande e Pequena. Nesses locais, já são 1.363 casos. A maioria na Taquara e Barra, com 204 e 185, respectivamente.

Além da rede pública, hospitais particulares também têm sentido um aumento nos casos de dengue. No Copa D¿Or, por exemplo, já foram notificados 225 casos desde janeiro, número superior ao de todo o ano passado, quando 148 vítimas da dengue passaram pela unidade. Para dar conta da demanda, o hospital está aumentando a área de atendimento para dengue de 15 para 21 leitos. Mas, se for necessário, segundo o chefe da emergência, Marcelo London, uma área anexa ao hospital poderá ser usada para hidratação.

Diante dos números que não param de crescer e das reclamações das vítimas de dengue sobre erros de diagnóstico, especialistas recomendam que todo médico, ao atender um paciente com febre e um ou mais sintomas de dengue, desconfie imediatamente que pode ser um caso da doença, e não uma virose qualquer. É também fundamental seguir o protocolo de atendimento preconizado pelas secretarias e pelo Ministério da Saúde, que recomenda hidratação imediata.

¿ Os sintomas são parecidos com os de viroses, mas, em época de surto, você tem que tratar como se fosse dengue. No mínimo, precisa fazer um hemograma. Se estiver normal, o médico deve orientar o paciente a voltar imediatamente se sentir alguns dos sinais de alerta, como tonteira, queda de pressão, vômito, dor abdominal e falta de ar. Se o exame de sangue apresentar queda de plaquetas e aumento de hematócritos, possivelmente é dengue. Dependendo das taxas, devese deixar o paciente em observação por seis horas. Se ele estiver com qualquer um dos sinais de alerta, deve ser internado e receber hidratação venosa ¿ diz o infectologista Alberto Chebabo.

O problema é que nem toda as unidades da rede particular têm feito o dever de casa. Segundo Andrea Mello, coordenadora- geral de Educação em Saúde e Gestão, da Secretaria estadual de Saúde, nos treinamentos oferecidos pelo órgão no interior, os hospitais privados são sempre c o n v i d a d o s a mandar médicos, mas, este ano, só Niterói e São Gonçalo tiveram boa participação. Ao todo, o estado treinou desde janeiro 1.049 médicos e enfermeiros da sua rede, que são multiplicadores e repassam as informações em suas unidades. O município, por sua vez, já capacitou mais de 1.400 profissionais. Os procedimentos adotados seguem protocolos do Ministério da Saúde, que já convidou profissionais do órgão para dar treinamento em todo o país.

A secretaria municipal entrou em contato com o Sindicato dos Hospitais Particulares e se pôs à disposição para ajudar e promover treinamentos.