Título: Na Era Agnelli, valor de mercado da Vale cresce 592% e lucro é recorde
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 26/03/2011, Economia, p. 30

Em dez anos à frente da Vale, Roger Agnelli transformou uma empresa associada ao gigantismo estatal brasileiro e focada em minério de ferro em uma companhia global e diversificada. Com estilo centralizador, comandou a expansão da empresa para 38 países - no início da década, o número de nações em que ela atuava não chegava a dez -, liderou o ingresso nos segmentos de níquel e carvão, reforçou os projetos de logística e fez e os investimentos da companhia saltarem de US$1,5 bilhão, em 2011, para US$19,4 bilhões em 2010.

O lucro líquido da Vale acompanhou o salto na mesma proporção: saiu de US$1,3 bilhão, em 2001, para US$17,3 bilhões, em 2010, o maior já alcançado na indústria da mineração. Em 2010, ela também se tornou a maior empresa exportadora brasileira, com US$29 bilhões em vendas ao exterior. O bom desempenho da companhia se refletiu na valorização das ações. O valor de mercado da Vale teve um crescimento vertiginoso nos últimos dez anos: de US$9,2 bilhões para US$176,3 bilhões.

Considerando os valores em reais e o período entre o dia em que Agnelli assumiu a presidência da mineradora - 1º de julho de 2001 - e ontem, o valor de mercado da companhia avançou 592,5%, de R$20,328 bilhões para R$263,824 bilhões. O cálculo desconta a inflação do período, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Esse salto permitiu à Vale brigar em pé de igualdade com gigantes do setor. Hoje, no ranking mundial da mineração, ela perde apenas para a australiana BHP Billiton, pelo critério de capitalização. E exibe o status de primeira produtora mundial de minério de ferro e segunda de níquel.

Cenário externo favoreceu desempenho da Vale

Os números da empresa sempre foram um dos trunfos de Agnelli para se manter no poder. Além disso, a proximidade com o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, também era considerada por ele e seus interlocutores como uma carta na manga. Nos 20 anos que passou no Bradesco - de 1981 a 2011 -, Agnelli construiu uma relação pessoal com Brandão. Com a confiança que ganhou do executivo, chegou à diretoria-executiva do Bradesco em 1998 e, em 2000, assumiu a presidência da Bradespar. Passou, então, a representar o banco no Conselho de Administração da Vale, tornando-se próximo ao dia a dia da mineradora. Foi o passe para se tornar presidente da companhia. Ironicamente, virá do Bradesco o voto que poderá derrubá-lo.

Na presidência da Vale, Agnelli tomou decisões ousadas. Algumas bem-sucedias; outras nem tanto. Entre as fracassadas estão a tentativa de comprar a canadense Noranda, em 2004, e a suíça Xtrata, em 2008. Mas em 2006 deu um tiro certeiro. Comprou a canadense Inco por cerca de US$17 bilhões. Apesar de ter enfrentado uma greve de funcionários mais de um ano do Canadá, a aquisição é vista no mercado como um sucesso e considerada um marco do processo de internacionalização da empresa. A fatia de funcionários da Vale no exterior passou de 1,1% dos 36.801 no ano anterior à compra da Inco, para 20,7% dos 119.246 empregados em 2010.

Embora a competência de Agnelli seja apontada como decisiva para o crescimento da Vale, não é possível ignorar a conjuntura internacional favorável na última década. A partir de 2000, a China aumentou o apetite por minério de ferro, impulsionando os preços. Em 2010, o país respondeu por um terço da receita da empresa.

COLABOROU Lucianne Carneiro