Título: Divergências entre ricos e pobres
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 25/07/2009, Mundo, p. 27

Uruguai assume presidência do bloco e reafirma críticas ao Brasil e à Argentina

A reunião de chefes de Estado do Mercosul terminou ontem em Assunção com promessas do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, novo presidente temporário do bloco, de avançar na resolução dos conflitos comerciais nos próximos seis meses. Em entrevista coletiva que concedeu ao lado do colega paraguaio, Fernando Lugo, Vázquez prometeu adotar medidas ¿que façam desaparecer as dificuldades alfandegárias, para que no bloco exista solidariedade, apoio e complementariedade¿. Assim, acabar com a dupla cobrança de tarifas de importação na região continuará a ser o grande desafio para que o Mercosul se converta em união aduaneira, tarefa que se arrasta há 17 anos, desde que o Tratado de Assunção deu início ao processo de integração.

Uruguai e Paraguai mantêm a reclamação sobre as barreiras comerciais para entrada de seus produtos agrícolas e manufaturados nos grandes mercados do Brasil e da Argentina. O governo brasileiro também não conseguiu avançar nas propostas sobre a distribuição das cadeiras no Parlamento do Mercosul (Parlasul) proporcionalmente ao número de habitantes dos países-membros. O governo de Assunção condicionou seu apoio à criação de um futuro tribunal de Justiça, ideia que recebeu a rejeição expressa de Vázquez.

O jornal paraguaio ABC Color publicou ontem uma dura crítica ao processo de integração em seu editorial. ¿Nessas condições, o Mercosul continuará, como sempre, com sua marcha manca, cada vez mais gordo, inútil e oneroso, com a criação de novas instituições igualmente imprestáveis e inúteis¿, destacou o diário conservador. A publicação menciona como exemplo a recente inauguração da sede de Instituto Social do Mercosul, na capital paraguaia. O organismo será presidido pela paraguaia Maria Madalena Rivarola e terá como função articular políticas sociais.

Com um Mercosul que não satisfaz os sócios menores, o chanceler paraguaio, Héctor Lacognata, propôs que seu país, o Uruguai e a Bolívia ressuscitem o Urupabol ¿ um antigo pacto entre os três países, criado em 1963 em Assunção. Na época, o bloco foi constituído para estudar o sistema do comércio internacional e atender os objetivos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Lacognata pretende relançar o projeto como processo alternativo para potencializar a integração física, energética, de transportes e serviços entre os três sócios. O presidente boliviano, Evo Morales, expressou seu apoio à ideia e anunciou que será feito um novo encontro para dar andamento ao projeto.

Venezuela

Os presidentes dos países-membros do Mercosul ¿ Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ¿ pediram ontem ¿uma conclusão rápida¿ para a adesão da Venezuela ao bloco. A entrada foi aprovada em meados de 2006 pelos quatro sócios plenos, mas apenas os Congressos da Argentina e do Uruguai a ratificaram. Para que o processo seja finalizado, falta a aprovação dos senadores brasileiros e paraguaios ¿ setores de centro e direita consideram que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, não cumpre as cláusulas democráticas do Mercosul. No comunicado conjunto, os membros plenos ressaltaram que a entrada do novo sócio será ¿em benefício do fortalecimento do bloco¿.

Em outra declaração, o Mercosul e os países associados ¿ Bolívia e Chile ¿ pedem o combate ao crime organizado e a proteção dos direitos humanos dos imigrantes e suas famílias. Também elogiam a recente resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) que revogou a suspensão imposta a Cuba em 1962, sob a alegação de que o ¿regime marxista-leninista¿ adotado em Havana seria ¿uma ameaça¿ ao hemisfério.

A GRITA DOS DESPOSSUÍDOS Como se tornou habitual, principalmente quando as reuniões de cúpula do Mercosul se realizam no Paraguai ou Uruguai, manifestantes se concentraram ontem diante da sede da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), onde se realiza o encontro. Em palavras de ordem, eles denunciaram uma vez mais as assimetrias do bloco e reclamaram políticas compensatórias do Brasil e da Argentina para os sócios mais pobres. Cartazes proclamaram que ¿esse Mercosul injusto ameaça o futuro das nossas crianças¿.