Título: A cronologia da crise
Autor: Carneiro, Lucianne ; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 26/03/2011, Economia, p. 31

4/8/2008: A Vale anuncia que encomendou 12 navios à China ao custo de US$1,6 bilhão. A notícia desagrada a Lula, uma vez que uma das bandeiras do governo era a revitalização da indústria naval. Mas o desconforto não se torna público num primeiro momento.

3/12/2008: Em plena crise econômica global e sem conversa prévia com o governo, a Vale anuncia demissão de 1.300 empregados no Brasil e no exterior, dos quais 260 (20% do total) em Minas. A empresa também anuncia férias coletivas para 5.500 trabalhadores, dos quais 4.400 (80% do total) na unidade mineira da empresa. O anúncio irritou Lula, que passou a fazer cobranças públicas a Roger Agnelli por mais investimentos no país, em especial na siderurgia.

13/4/2009: A Vale anuncia a demissão de Demian Fiocca da diretoria de Gestão e Sustentabilidade da empresa, sob a justificativa de enxugamento de pessoal em meio à crise econômica. Fiocca, ex-presidente do BNDES, é muito próximo ao ministro da Fazenda, Guido Mantega.

11/9/2009: Lula aproveita evento no estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco, para fazer críticas públicas a Agnelli. ¿Eu disse para o companheiro Roger Agnelli que era para termos começado a construir essas siderúrgicas no auge da crise, para dar uma resposta a quem estava com medo¿, disse na ocasião, referindo-se a uma reunião com o executivo ocorrida naquela semana. ¿É impossível a Vale continuar comprando navio na China quando a gente está montando a indústria naval aqui. Ele (Agnelli) disse para mim que a indústria naval brasileira não fabricava navio de 400 (mil) toneladas¿.

10/9/2010: A Vale anuncia ter obtido uma linha de crédito de US$1,2 bilhão junto a bancos chineses para cobrir 80% do custo de construção dos 12 navios encomendados a um estaleiro do país, e a questão dos navios volta à tona.

18/6/2010: Lula vai à inauguração da ThyssenKruppCSA, no Rio, da qual a Vale é sócia. Poucos dias depois, Lula visita o canteiro de obras de outra siderúrgica da Vale no Pará, a Alpa, um dos empreendimentos siderúrgicos que a mineradora teve de bancar sozinha por pressão do governo. A relação conflituosa entre o ex-presidente e Agnelli tem uma trégua.

14/10/2010: Na África, Agnelli fala em público pela primeira vez sobre os boatos sobre seu futuro na Vale. Declara que a empresa é alvo de ¿jogo político¿ e que ¿a turma do PT está procurando cadeira¿. As declarações azedam novamente as relações entre o executivo e Lula, e dão munição a segmentos do PT que fazem lobby por sua saída.

22/2/2011: Agnelli tenta reaproximação com Lula e o convida para inauguração de ferrovia na Guiné. Numa última cartada para recuperar a simpatia do governo, a Vale entra nas negociações com o consórcio responsável pela usina de Belo Monte, para assumir a fatia de 9% que o Bertin tinha na hidrelétrica. O empreendimento é considerado essencial para a segurança energética pelo Planalto. Mas a pressão pela troca de comando da Vale só aumenta.

21/3/2011: O jornal ¿O Estado de S.Paulo¿ publica reportagem em que revela uma reunião entre o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Lázaro Brandão, e Mantega, na qual a sucessão de Agnelli teria sido discutida. O vazamento do encontro para a imprensa desagrada à presidente Dilma Rousseff. A semana é marcada por uma estratégia de Agnelli de se manter no poder. O executivo troca e-mails com parlamentares para tentar organizar um movimento de resistência no Congresso e diretores da mineradora ameaçam deixar a companhia. Funcionários vestem preto em protesto contra a interferência política na empresa.

25/3/2011: Integrantes do Conselho de Administração da Vale se reúnem em São Paulo com Mantega, para tratar da sucessão de Agnelli. O Bradesco, que detém 21,21% da Valepar, holding que controla a Vale, cede à pressão do governo e dá o aval para a troca de comando da empresa, segundo informou o colunista Ancelmo Gois. A mudança, porém, só deverá ser sacramentada após reunião para eleição do novo Conselho de Administração do banco, no próximo 19 de abril.