Título: Agonia com a falta d¿água
Autor: Vaz, Lúcio
Fonte: Correio Braziliense, 26/07/2009, Política, p. 2

Assentados desistem dos lotes porque a irrigação não chegou. O passo seguinte é vender a terra para especuladores imobiliários

Flores de Goiás ¿ O assentamento São Vicente agoniza no nordeste goiano. Em vez de agricultura irrigada o ano inteiro, há apenas restos das plantações de milho do tempo das águas. Casas vazias, lotes abandonados, alguns depois de passarem por três, quatro donos. Há também restos de carvoarias, que destruíram o que restava da mata nativa. O assentamento chegou a ter 756 fornos de carvão. Só consegue produzir quem trouxe dinheiro de fora para comprar trator, equipamentos agrícolas, abrir poço. Mas a água não dá para beber, é salobra. Aqueles que esmoreceram venderam ou simplesmente abandonaram os lotes cedidos de graça pelo governo. A técnica do Incra que fiscaliza o assentamento, Verbênia Peixoto, inicialmente diz não acreditar no comércio de lotes. ¿Compra de lote, eu acho que não existe. O que existe é uma desistência.¿

Lazer Assentados afirmam que pessoas de Flores de Goiás e até de Brasília transformam lotes em chácaras de final de semana. Questionada se já encontrou esse tipo de situação, responde: ¿Já encontramos. E, quando encontramos, notificamos e fazemos o processo de retomada do lote pelo setor jurídico¿. O assentado Valdemar Bissotto não tem meias palavras. ¿Do dia em que entramos aqui, 14 anos atrás, até hoje, não tem 20% do povo que entrou.¿ Mas como eles vendem? ¿Vendem no dinheiro. Aqui, tu compra um lote de 20 hectares, mais a morada, com R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 3 mil, duas vacas.¿