Título: Analistas esperam pacote de ajuda de até 100 bilhões para Portugal
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 25/03/2011, Economia, p. 31

FMI, que diz não ter recebido pedido, participaria. UE teria a maior parte

WASHINGTON, BRUXELAS e RIO. O rebaixamento da nota de longo prazo de Portugal pela Fitch, com o agravamento da crise no país, alimentou ontem as especulações sobre um pacote de resgate. O premier José Sócrates, que apresentara sua renúncia na véspera, voltou a afirmar que a ajuda não é necessária, mas analistas já estimam um valor entre 60 bilhões e 100 bilhões. A maior parte viria da União Europeia (UE).

O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirma não ter recebido qualquer pedido de Portugal, mas economistas veem o auxílio como inevitável. Para Jacob Kirkegaard, especialista em economias europeias do Peterson Institute, o orgulho pode retardar o pedido oficial de socorro, já que a ajuda do FMI nos anos 1980 foi vista como uma humilhação nacional:

- Os políticos atuais não querem ser vistos como aqueles que voltaram a pedir ajuda. Mas um programa do FMI será a melhor coisa hoje para Portugal.

O cientista político Pedro Adão e Silva, do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, de Lisboa, atualmente professor convidado da Universidade Georgetown, acha muito difícil que Portugal não tenha de recorrer ao FMI.

Kirkegaard ressalta ainda que a Espanha não será a próxima a cair, porque implantou medidas de austeridade mais severas. Estas pautaram os protestos na abertura do Conselho Europeu, em Bruxelas. Cerca de 20 mil pessoas, segundo os organizadores, tentaram chegar ao local da cúpula, sendo barrados pela polícia com jatos d"água e spray de pimenta. Os manifestantes revidaram com pedras.

Mercados apostam em socorro e euro sobe 0,6%

A expectativa do socorro a Portugal animou os investidores. Londres avançou 1,47%, e Frankfurt, 1,90%. Lisboa subiu 1,12%, e Madri, 1,11%. O euro ganhou 0,6% frente ao dólar, a US$1,4177. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 0,70%. Nasdaq e S&P subiram 1,41% e 0,93%, respectivamente.

Mas isso não se repetiu na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O índice Ibovespa recuou 0,39%, aos 67.523 pontos, com a queda dos papéis do setor de construção. O dólar caiu 0,18%, a R$1,658. Para o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno, esse é um patamar limite para o governo, que deve divulgar em breve novas medidas.

COLABOROU Emanuel Alencar, com agências internacionais