Título: Capacitação dos condutores é principal entrave
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Globo, 27/03/2011, O País, p. 10

SÃO PAULO. Um dos entraves para a implantação do programa é a seleção e a capacitação dos condutores. O Ministério da Saúde exige que seja um técnico em enfermagem, mas, em nenhum lugar do país, a área da saúde tem o cargo de auxiliar de enfermagem motociclista. O jeito encontrado pelas prefeituras foi recrutar voluntários para a função. São Paulo, Brasília e Porto Alegre, por exemplo, não conseguiram o número suficiente para preencher as vagas. Na capital paulista, de 80 motocicletas recebidas em 2009, somente 16 circulam atualmente. Em Brasília, de 22, dez estão rodando, e, na capital gaúcha, nenhuma das três motos funciona.

- O programa das motolâncias é importantíssimo para o Brasil e ainda mais para uma cidade com o trânsito de São Paulo. Agora, como todo projeto dessa importância, ele precisa ser planejado para você conseguir operacionalizar o mais rapidamente possível - afirmou o coordenador-geral do Samu em São Paulo, Paulo Kron, que vai usar agora bombeiros para reforçar a equipe.

Cidades que superaram a etapa de seleção esbarraram em outro gargalo: treinamento dos condutores. Uma portaria do ministério exige que o motociclista tenha curso de direção defensiva. Depois de oito meses de programa, a pasta detectou dificuldade dos municípios em fazer a capacitação e fez um convênio com a Polícia Rodoviária Federal para ampliar a oferta de treinamento, mas não adiantou.

"Apenas 16 condutores fizeram o curso da Polícia Rodoviária Federal. Infelizmente não conseguimos mais ajustar uma data com a PRF", explicou, em nota, a prefeitura de Salvador, onde nem metade da 24 motolâncias está em serviço.

O curso da Polícia Rodoviária Federal é bastante rigoroso, e o índice de reprovação, alto. A prefeitura de Niterói encaminhou para a capacitação 50 funcionários, mas só 30 foram aprovados. Em São Paulo, de 52 auxiliares de enfermagem que passaram pelo curso, 18 foram habilitados. A prefeitura niteroiense acusou o ministério de não entregar até hoje os desfibriladores prometidos para o fim de 2010 para que as duas motos da cidade comecem a rodar. Em São Paulo, 208 desses equipamentos chegaram um ano e meio depois das motocicletas.

Em Belo Horizonte, o curso na PRF foi suspenso porque o município não havia comprado os equipamentos de segurança para os condutores, como capacete e colete.

O Ministério da Saúde informou que os municípios que não tiverem como colocar em funcionamento as motolâncias devem comunicar a pasta para que os veículos sejam remanejados a outras cidades. O ministério disse que a fiscalização é de competência dos conselhos municipais e estaduais de Saúde.

"O Ministério da Saúde vem cobrando dos gestores locais o funcionamento de todas as motolâncias", informou a pasta.