Título: Técnica mata germes em alimentos
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 27/03/2011, Ciência/Saúde, p. 48

Sabe aquele franguinho de sua dieta? Ele pode ser irradiado; uma prática comum na indústria de alimentos e na agricultura, autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com critérios rígidos. Essa técnica melhora a conservação e evita que o consumidor use produtos, embalados ou a granel, contaminados por germes como bactérias do tipo salmonela e do cólera.

A irradiação expõe o alimento a alguma energia ionizante, como raios gama e feixe de elétrons, e ataca bactérias, parasitas, leveduras e fungos, impedindo, ainda, reações que levam o alimento a apodrecer. E, ao contrário da radiação nociva, que se acumula por toda parte, a irradiada não permanece no alimento e é inócua ao ser humano, explica o pesquisador Murillo Freire, da Embrapa e um dos autores do livro "Microbiologia de alimentos: qualidade e segurança na produção e consumo" (Universidade Federal de Viçosa).

Ele conta que as autoridades de vigilância sanitária e de segurança alimentar de 37 países aprovam a irradiação de 40 tipos diferentes de alimentos, com aplicação de variadas doses, em grãos, carnes, frutos e legumes. Além de matar ou inativar micro-organismos nocivos, a técnica inibe ou retarda brotamento em raízes e tubérculos, como cebola, batata, alho, e o amadurecimento (especialmente de banana, mamão, manga, goiaba e melão), aumentando significativamente a vida útil. ¿ Mesmo o uso de baixas doses, de até 1 kGy (Gray), elimina insetos, ovos e larvas de produtos. A aplicação é também uma opção ao perigoso uso da fumigação com o brometo de metila ¿ comenta o pesquisador. ¿ Carnes bovina e suína, frangos, frutos do mar e crustáceos também são tratados com a técnica, que, por sua eficácia e segurança, também é recomendada pela Organização Mundial de Saúde e Organização para Alimentos e Agricultura das Nações Unidas (FAO).

Em irradiadores, os alimentos são transportados dentro de caixas metálicas apoiadas sobre esteiras ou suspensas por um sistema de ganchos móveis. Eles ficam expostos durante um tempo a um campo de radiação ionizante proveniente de uma fonte (cobalto-60 ou feixe de elétrons). Essas instalações não são nucleares (não contêm combustível nuclear) e não produzem lixo radioativo. E ainda são construídas de forma que toda radiação fique confinada no interior do irradiador, nunca influenciando os níveis normais de radioatividade da vizinhança da instalação.