Título: Mais ganho que risco na radiação em exames
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 27/03/2011, Ciência/Saúde, p. 48

O vazamento na central nuclear de Fukushima que se seguiu ao devastador terremoto do dia 11 no Japão reacendeu a discussão sobre os riscos à exposição à radiação. Exposição que acontece quando fazemos uma série de exames ou comemos alimentos irradiados, por exemplo. Ao ano, recebemos uma dose entre 2 a 3 mSv (milisieverts, medida usada para emissão radioativa), liberada na natureza, quando voamos de avião ou em exames médicos. Esse nível é considerado inócuo. Segundo especialistas, esse tipo de radiação não costuma causar problemas, desde que usado com critério e obedecendo às normas aprovadas.

A medicina é uma das áreas em que mais se usa radiação. Quando médicos querem estudar anatomia de algum órgão, eles pedem raios X e tomografias. Esses exames emitem energia ionizante. É a mesma energia de usinas nucleares, só que com outra função. Já se o objetivo é ver melhor o funcionamento de órgãos, geralmente se faz cintilografia e PET (sigla em inglês de tomografia por emissão de pósitrons), nos quais o médico injeta material radioativo no paciente, e a radiação é captada em aparelhos. Cada um desses exames emite diferentes radiações ionizantes (alfa, beta, gama etc), e todas têm potencial de interagir com o corpo, explica o radiologista Ilan Gottlieb, da Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI): ¿ A radiação ionizante não é a única que pode causar malefícios à saúde. Estudos, não concluídos, indicam que a energia eletromagnética de celulares ou grandes antenas podem causar algum dano.

O que se tem certeza é que a partir de 100 mSv o perigo de doenças aumenta, como lesões de pele, problemas digestivos (incluindo náuseas e vômitos) e doenças respiratórias. Com 1 mil mSv eleva-se o risco de danos à medula óssea, a nossa fábrica de sangue, ocorrendo a redução de hemácias, leucócitos e plaquetas. E uma dose acima de 7 mil mSv mata em poucos dias.

Em exames em radiologia os índices variam muito, mas ficam abaixo dos valores acima, registrados em acidentes, como o do Japão. Uma radiografia de tórax emite, em média, de 0,06 a 0,1 mSv. Já uma tomografia pode liberar 20 mSv; a de coração emite, em média, 16 mSv. A mamografia, 0,4 mSv. ¿ Esses valores dependem da tecnologia usada e da avaliação do radiologista responsável pelo exame e do tamanho dos pacientes. Os mais pesados precisam ser expostos à mais radiação para se conseguir a mesma qualidade de imagem de um indivíduo menor ¿ explica Gottlieb.

Dose aplicada deve constar no laudo do paciente Ele concorda que nenhuma radiação é 100% segura. Por outro lado, o risco de não fazer um exame deve ser levado em conta. Se uma pessoa é submetida a uma tomografia de artérias coronárias e for detectada obstrução grave num vaso importante, como o tronco esquerdo, há evidências de que precisa ser operada.

Portanto, afirma Gottlieb, deve-se pesar quantos indivíduos terão sinais passíveis de tratamento e qual a chance deles terem complicação pela radiação, em contraponto ao peso da omissão de diagnóstico. Há ainda o fato de que as doses em exames estão diminuindo. ¿ Antes, uma tomografia de coronárias expunha o paciente a cerca de 25 mSv. Com os aparelhos mais modernos, como o de 256 canais, a dose média é inferior a 5 mSv e chegará a 1 mSv em um ou dois anos ¿ explica o médico.

Mesmo assim existem relatos de casos de lesões por excesso de dose em tomógrafos. Mas Gottlieb afirma que isso acontece, geralmente, por erro na programação ou mau uso dos aparelhos: ¿ Para se proteger, a pessoa pode exigir que a dose de radiação à qual ela foi exposta seja incluída no laudo e fazer seus exames em centros de excelência, que se preocupam em usar baixas doses.

As físicas-médicas Helen Khoury (UFPE) e Kellen Daros (Unifesp), integrantes da Comissão de Proteção Radiológica do Colégio Brasileiro de Radiologia, dizem que os benefícios dos exames são maiores do que os riscos associados a eles, desde que tenham sido realizados com aparelhos calibrados e por profissionais qualificados. A exposição desnecessária à radiação ocorre quando não há justificativa para o exame.

SAIBA MAIS SOBRE EXAMES RAIO X: É formado por feixes invisíveis de radiação ionizante que atravessam o corpo e são alterados por diferentes tecidos. Então formam imagem bidimensional dos órgãos. Ajuda a detectar doenças de pulmões, abdômen, sistema urinário, aparelho digestivo, ossos etc.

TOMOGRAFIA: Usa raios X de fonte que roda em volta do corpo e gera imagem tridimensional. Pode ser usada com contraste. É indicada em inflamações, tumores, alterações congênitas dos sistemas nervoso, digestivo, urinário, respiratório, circulatório e musculoesquelético.

MEDICINA NUCLEAR: O método capta isótopos radioativos ingeridos ou injetados no corpo para fazer imagens. Com o PET, as análises são em nível celular. Mostra inflamações e tumores dos ossos, da tireoide, do sistema digestivo, do cérebro, de vias urinárias.