Título: Obama: derrubar Kadafi à força seria um erro
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 29/03/2011, O Mundo, p. 24
WASHINGTON. Questionado por republicanos e também por democratas por causa do conflito deflagrado na Líbia - o primeiro de seu governo, em comparação com as guerras herdadas do Iraque e do Afeganistão - o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, procurou minimizar ontem a participação americana na intervenção militar e seus respectivos custos para os cidadãos. Ele afirmou que os EUA trabalhariam com os aliados para apressar a saída de Muamar Kadafi, a quem chamou de tirano, mas que não usariam a força para derrubá-lo. Em um pronunciamento de 28 minutos à nação, Obama anunciou para amanhã a transferência do comando da operação para a Organização do Tratado do Atlântico Norte. - Por causa dessa transição mais ampla para a coalizão da Otan, o risco e o custo dessa operação, para nossos militares e para os contribuintes americanos, será significativamente reduzido - justificou, ao salientar que os EUA passarão a ter um papel de "apoio" nos campos de inteligência, suporte logístico, resgate e comunicações.
Obama voltou a definir os limites da intervenção dentro dos objetivos exclusivos de proteção da população civil estabelecidos pela resolução 1.973 da ONU - de aplicação de uma zona de exclusão aérea -, e negou o envio de tropas para o combate em terra com a finalidade de derrubar Muamar Kadafi. - É claro, não há dúvida de que a Líbia e o mundo serão melhores com Kadafi fora do poder. Eu, junto com muitos outros líderes mundiais, abraçamos essa meta, e vamos ativamente persegui-la por meios não militares. Mas ampliar nossa missão militar para incluir uma mudança de regime seria um erro - sustentou, alertando para o risco de um descumprimento do mandato da resolução. - Se tentássemos derrubar Kadafi pela força, nossa coalizão se dividiria.
Presidente destaca ação com comunidade internacional Em seu discurso, Obama respondeu às críticas domésticas sobre a pertinência do envolvimento americano, a maioria sustentada em argumentos de que os EUA não deveriam cumprir um papel de "polícia do mundo", particularmente quando "temos muitas preocupações pressionando aqui em casa", notou. - É verdade que os EUA não podem usar os militares em todo lugar que uma repressão ocorra. E dados os custos e riscos da intervenção, devemos sempre medir nossos interesses com a necessidade de ação. Mas isso não pode ser um argumento para nunca agir em benefício do que é o certo - argumentou.
No caso da Líbia, ressaltou que o momento atual oferece a perspectiva de "violência em uma escala terrível". Haverá momentos em que a segurança do país não será diretamente ameaçada, disse, mas sim seus "interesses e valores". - Nessas circunstâncias, sabemos que os EUA, como a nação mais poderosa do mundo, serão muitas vezes chamados para socorrer. Nesses casos, não devemos ter medo de agir - mas o fardo da ação não deve ser só dos EUA. Como na Líbia, nossa tarefa é a de mobilizar a comunidade internacional para a ação coletiva.
Obama defendeu a iniciativa militar americana e da coalizão internacional ao classificar o líder Muamar Kadafi como um "tirano" que atemoriza o país há quatro décadas. - Ele negou liberdade a seu povo, explorou sua saúde, assassinou oponentes em casa e no exterior, e aterrorizou pessoas inocentes pelo mundo, incluindo americanos que foram mortos por agentes líbios.