Título: Agência pode reduzir nota do Brasil por risco fiscal
Autor: Novo, Aguinaldo; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 30/03/2011, Economia, p. 29

Segundo S&P, há "rigidez no Orçamento" e dificuldade para obter superávit. Mantega diz que país cumprirá meta

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Milena Zaniboni, diretora da agência de classificação de risco de crédito Standard & Poor"s, afirmou ontem, em seminário promovido em São Paulo, que a situação fiscal do Brasil preocupa mais que a inflação e acenou com a possibilidade de alterar a perspectiva ou a nota atribuídas ao Brasil. Em 2008, a agência concedeu ao país o rating BBB- (o primeiro patamar de grau de investimento, que dá ao país a chancela de porto seguro para os investidores), com perspectiva estável.

- Os principais pontos de preocupação são a parte fiscal, a rigidez do Orçamento e a dificuldade do governo para fazer um superávit fiscal primário maior (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) - afirmou Milena.

Ela acrescentou que o governo "está no caminho certo" ao perseguir um superávit superior a 3% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). Porém, disse que podem ocorrer "pressões negativas" que levariam a uma revisão do rating. Caso o país cumpra a meta, a tendência será manter a perspectiva estável (sinalizando que a nota não sofrerá alteração num período de 12 meses).

Inflação também é um fator de desequilíbrio, diz S&P

Outro fator de eventual desequilíbrio, na avaliação da Standard & Poor"s seria um novo repique da inflação.

- O Banco Central tem um histórico, não há por que acreditarmos que se tornará diferente agora e passará a ser leniente com a inflação - afirmou Melina, acrescentando:

- Não quer dizer que a gente não possa mudar de opinião.

Presente no evento, o diretor do Banco Mundial (Bird) no Brasil, Makhtar Diop, adotou tom mais diplomático. Para ele, o governo está no "caminho certo para combater a inflação" e terá sucesso em equilibrar suas contas este ano a partir do corte, já anunciado, de R$50 bilhões no Orçamento.

- Acredito que o governo federal está empenhado em aumentar a eficiência na área fiscal e quer reduzir de forma substancial os gastos correntes - disse Diop.

A reação ao cenário apresentado pela Standard & Poor"s veio, à tarde, de Brasília. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que seria um equívoco da agência reduzir a nota brasileira em função do quadro fiscal do país. Ele assegurou o cumprimento da meta de superávit primário fixada para 2011, de R$117,9 bilhões:

- Seria até curioso ver a explicação (sobre uma eventual redução da nota brasileira). Seria um equívoco. Vamos cumprir a meta de primário, com certeza.

O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, também reafirmou o compromisso do governo com a austeridade fiscal:

- Não há qualquer dúvida sobre o cumprimento da meta de 2011.