Título: Crédito volta a crescer, apesar de aperto do BC
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 30/03/2011, Economia, p. 28

Ações não impedem avanço de 21% nos empréstimos acumulados em 12 meses até fevereiro, mas banco prevê redução

BRASÍLIA. Os efeitos das medidas restritivas a financiamentos de longo prazo adotadas em dezembro pelo Banco Central (BC) se esgotaram em janeiro. Em fevereiro, o mercado de crédito voltou a aquecer, embora a um custo maior para os tomadores. O volume de empréstimos subiu 1,3% sobre janeiro, com média de novas concessões 3,2% maior, acumulando alta de 21% em 12 meses - muito acima do limite de 15% fixado na semana passada pelo BC para evitar a escalada da inflação.

Os dados parciais de março (até o dia 17, com 11 dias úteis) revelam a persistência da expansão do crédito, com alta de 0,6% em termos de estoque e de 4,5% considerando a média diária das concessões. O aumento veio acompanhado de elevação de 1,5 ponto percentual na taxa de juros.

- Os dados do BC mostram que há uma inércia e sinalizam novas medidas de restrição ao crédito - disse o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas.

Projeção do Banco Central é revisada para baixo

Ainda assim, confiando em novas ações de restrição, como a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre captações externas, e na redução dos empréstimos do Tesouro Nacional ao BNDES, que deverá amortecer de 23% para 19% o crescimento do financiamento com recursos direcionados, o BC revisou para baixo a projeção de expansão geral do crédito na economia em 2011, de 15% para 13%.

A estimativa para a participação do total de financiamentos na economia também caiu, de 50% para 48% do Produto Interno Bruto (PIB).

- Há um esforço de contenção do crédito, e isso está repercutindo nas nossas estimativas - explicou o chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.

Ele argumentou que os dados de fevereiro estão influenciados por fatores sazonais, como a retomada da produção depois da acomodação natural pós-festas de fim de ano, e pela base fraca de comparação, pois janeiro foi o mês de maior impacto das medidas de restrição ao crédito adotadas em dezembro. Para Maciel, se os números forem comparados aos registrados em novembro, há uma queda acentuada nas concessões de empréstimos, de 8,9%.

- A leitura do mercado de crédito diz que está havendo uma acomodação. O volume cresce num ritmo menor em relação ao observado no ano passado - afirmou Maciel.

- A concessão de crédito para as pessoas físicas ficou estável em 22% em fevereiro (expansão em 12 meses), enquanto o rendimento caiu 6,4%, pelo IBGE. Isso mostra que as famílias querem manter o padrão de vida, recorrendo aos financiamentos bancários, ainda que com juros maiores. Se os bancos não pisarem no freio, o BC tomará novas medidas - rebateu Thadeu de Freitas.

A taxa média de juros subiu para 38,1% ao ano em fevereiro - alta de 0,7 ponto percentual em relação à taxa de janeiro e de 3,7 pontos percentuais em comparação com o mesmo período do ano passado. Para as famílias, a taxa permaneceu estável em 43,8%, mas, para as pessoas jurídicas, subiu 1,4 ponto percentual, para 30,7%. O spread (diferença entre o custo da captação e a taxa cobrada pelo banco na ponta) ficou em 26,1 pontos. Para as empresas, atingiu 19,2 pontos - o maior patamar da série do BC, iniciada em 2000.

Aposta em novas tentativas para conter o consumo

Para o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, os consumidores podem esperar novos arrochos, já que as medidas adotadas pelo BC ainda não surtiram o efeito desejado. Segundo ele, tudo vai depender da forma como a instituição mira a inflação.

- Se desejar trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) a curto prazo, no início do segundo semestre, novas medidas de restrição ao consumo poderão ser anunciadas em breve - destacou Oliveira.

Entre estas, elevações no IOF para os financiamentos em geral, novas altas nos compulsórios, uma puxada maior na Taxa Selic, além de exigência de mais capital por parte dos bancos em determinadas modalidades de crédito.

Em fevereiro, a inadimplência das operações de crédito subiu para 4,1% - alta já esperada pelo BC em função da elevação dos juros e do encurtamento nos prazos de financiamento. Mas, para o BC, o risco de calote é pequeno, dado o ambiente favorável da economia, com crescimento do emprego e da renda.