Título: Comissões avaliarão grandes obras do PAC
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 30/03/2011, Economia, p. 26

Equipe do governo vai a Belo Monte para conhecer condições de trabalho

BRASÍLIA. Na primeira reunião entre governo, centrais sindicais e empresários para analisar as condições de trabalho nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, reconheceu, de acordo com integrantes do encontro, que o governo se preparou mal para os grandes projetos de infraestrutura em relação às questões trabalhistas e ao impacto desses empreendimentos nos municípios. Segundo o ministro, para evitar conflitos como o ocorrido em Jirau (RO), o governo implantará comissões tripartites nas grandes obras e já foi despachada uma equipe para Altamira (PA), onde será construída Belo Monte, maior usina do país.

- Vamos trabalhar para nos anteciparmos às crises. Enviamos gente para Belo Monte para começarmos a ver as dificuldades que podem ocorrer lá. O Estado tem de comparecer à obra antes de a obra começar, para ver se as condições de conforto, segurança e saúde são adequadas - disse o ministro.

No caso de Jirau, onde os trabalhadores incendiaram ônibus, o ministro afirmou que o conflito foi motivado pelo acúmulo de pessoas sem a estrutura devida. E sugeriu ao consórcio responsável pela construção que reveja o cronograma das obras:

- Quando se tem um grande contingente de trabalhadores em alojamentos distantes da cidade, é muito difícil controlar 20 mil pessoas. No caso de Jirau, a decisão de antecipar a obra provocou uma maior concentração de trabalhadores. Eu ponderei se não era o caso de rever essa decisão e trabalhar com um contingente um pouco menor para diminuir o grau de tensão.

Primeira negociação será sobre Jirau e Santo Antônio

As comissões tripartites terão o mesmo formato da câmara que será implantada amanhã para discutir condições mínimas de trabalho no PAC, repetindo os acordos fechados com a indústria canavieira e do suco de laranja. A ideia é que as comissões sejam a referência dos operários em caso de desrespeito às condições de trabalho. A primeira negociação será sobre Jirau e Santo Antônio, cujas obras estão paradas.

- O Gilberto nos disse que, antes de viajar, a presidente Dilma recomendou urgência no entendimento, porque o governo reconhece que há problemas nas obras, inclusive problemas trabalhistas, mas que há exagero do nosso lado. Não concordamos. Há exagero do lado deles (empresários) - afirmou o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, Paulinho.

- Pela primeira vez, houve por parte do governo a declaração de que há necessidade de se preparar melhor essas grandes obras - disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique.

Na reunião, houve embate entre sindicalistas e empresários sobre as condições nas obras. Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, há problemas localizados:

- Está havendo um exagero. Há problemas nas megaobras do PAC, mas não dá para generalizar. Isso representa cerca de 80 mil trabalhadores, num universo de 2,7 milhões. Isso significa 3%.