Título: Contra as crises, decisões duras e rápidas
Autor: Jungblut , Cristiane
Fonte: O Globo, 03/04/2011, O País, p. 13

BRASÍLIA. Nos primeiros três meses de governo, a presidente Dilma Rousseff já enfrentou crises e mostrou que não gosta de empurrar os problemas para frente, não tendo receio de afirmar suas posições, mesmo que elas possam não ser as mais populares. Dilma surpreendeu, principalmente, no estilo e na forma de tratar com o Congresso. A falta de jogo político e até de impaciência com os políticos, apontados antes como defeitos, foram contornados com conversas diretas e posições firmes. Por enquanto, tem conseguido bancar as decisões, tomadas antes de ir para o embate público.

No caso do salário mínimo e da correção da tabela do Imposto de Renda, Dilma primeiro fechou uma posição dentro do governo - sempre ancorada em conversas como com o fiel aliado Nelson Barbosa, secretário-executivo do Ministério da Fazenda - e depois praticamente comunicou sua decisão aos aliados, cobrando a famosa fidelidade ao governo.

Conta com ação também firme, mas mais maleável, do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que também agiu para evitar um mínimo diferente dos R$545 aprovados depois de muita gritaria e confusão das centrais sindicais e de parlamentares, inclusive do PT. A firmeza no estilo rendeu algo que nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou: 100% de fidelidade da bancada do PMDB na Câmara.

Mostrando que também já está lidando melhor com o jogo político, logo depois da aprovação do salário mínimo, Dilma procurou premiar os partidos fiéis ao governo. Chamou ao Palácio do Planalto, para uma reunião de afagos, os líderes dos partidos aliados na Câmara, mas deixou de fora o líder do PDT, Giovanni Queiroz (PA), que pregara voto contra a proposta do governo.

Dado o recado de como pretende agir com os aliados, Dilma deu um tempo, mas pouco depois voltou a agir para contornar insatisfações do próprio PDT e das centrais sindicais, lideradas pelo presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). Com as centrais irritadas com o tom duro das negociações, a presidente marcou uma reunião com os sindicalistas e foi muito hábil com o presidente da Força, que deixou o encontro bem menos ácido e até elogiando Dilma.

O governo tem sido vitorioso no Congresso, mas a calma por lá é aparente, inclusive dentro do PT. Além de insatisfações sobre nomeações para o segundo escalão do setor bancário, senadores experientes têm reclamado de que não são consultados sobre temas que precisarão passar pelo Congresso, em especial as propostas ligadas ao Orçamento.

A sorte, segundo aliados, é que Dilma "foi esperta" e não mandou nenhuma grande reforma ao Congresso que dependa de aprovação, o que a transformaria em refém dos aliados. Estes reconhecem que Dilma pegou um governo engessado em gastos e está tentando criar a sua marca, aos poucos.

- Ela tem uma linha de trabalho muito dura, muito austera, sempre dando exemplo - diz um assíduo frequentador do Planalto.

Essa linha dura vai aos poucos chegando no dia a dia do Planalto e da Esplanada dos Ministérios. Dilma determinou, por exemplo, que todos os ministros fiquem em Brasília às sextas-feiras, o que irrita muitos deles. Sempre foi comum a saída em massa de ministros de Brasília na quinta-feira à noite.

Além disso, a presidente, que é econômica nas palavras em público, proibiu entrevistas de escalões menores do governo sem autorização de seus superiores. Fica sempre muito irritada com declarações que causem ruídos na imprensa. Com menos de um mês de governo, decidiu demitir o então secretário nacional Antidrogas, Pedro Abramovay, que deu entrevista ao GLOBO defendendo punição diferenciada para pequenos traficantes. A declaração conflita com a política do governo de combate ao consumo de droga no país, especialmente de crack.

Já no quarto dia de governo, Dilma chamou a atenção do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito Siqueira, que declarou que a questão das violações dos direitos humanos na ditadura militar deveria ser vista como um fato histórico - o que contraria a visão dela e de seu governo.

A presidente também abortou rapidamente a nomeação do sociólogo Emir Sader, que atacou pela imprensa a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, a quem seria subordinado. Nesses três casos, mostrou que age de forma bem diferente da do presidente Lula, que deixava a polêmica correr solta, esticando o desgaste para o governo e para o envolvido no caso.

No dia a dia da Presidência, com uma agenda pública tranquila e sem os palanques e discursos rotineiros do antecessor, Dilma exerce com mais frequência sua conhecida objetividade. Como conhece as áreas do governo, detesta ser enrolada e cobra dados precisos e objetivos de todos. Também costuma questionar tecnicamente propostas apresentadas por ministros e auxiliares. E o que muitos ministros já aprenderam: ela não gosta de socializar as informações; os assuntos setoriais são discutidos com o ministro (ou ministros) da área.

Dilma prefere ter muitas informações à sua disposição para decidir. E costuma ser rápida. Na tragédia da Região Serrana do Rio, Dilma mandou o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, para o estado, no primeiro dia de enxurradas e autorizou a liberação de dinheiro para socorrer as vítimas e reconstruir as cidades. No dia seguinte, ela visitou a região atingida e conversou com os moradores.