Título: Hillary Clinton reprova peregrinação de Zelaya
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 26/07/2009, Mundo, p. 24

Em entrevista coletiva, secretária de Estado diz que tentativa de entrar no país foi imprudente

O presidente eleito de Honduras, Manuel Zelaya, completará na próxima terça-feira um mês que foi deposto de seu cargo e retirado de pijama do país por militares que o colocaram em um avião para a Costa Rica. Mesmo com a lentidão de resultados da mediação do presidente costarriquenho Oscar Arias e das resoluções da Organização dos Estados Americanos (OEA), a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, qualificou ontem de ¿imprudente¿ a tentativa de Zelaya em regressar ao país cruzando a fronteira com a Nicarágua. ¿Não contribui ao esforço geral realizado para restabelecer a democracia e a ordem constitucional em Honduras¿, criticou. A declaração foi feita em uma coletiva de imprensa junto com o premiê iraquiano, Nouri al-Maliki. Hillary pediu a Zelaya para ter tranquilidade e aceitar as propostas do mediador e presidente da Costa Rica, Oscar Arias.

Na semana passada, o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonou para Hillary e ressaltou a importância de se colocar em prática a resolução da OEA que pede a restituição de Zelaya à presidência hondurenha. Amorim também manifestou preocupação com o rumo da mediação de Arias em fazer concessões ao governo do presidente interino, Roberto Micheletti, uma vez que o objetivo do diálogo é resolver o problema de forma pacífica, mas com o retorno do presidente eleito. ¿A rigor, não se pode chamar de mediação, porque não se trata de diálogo entre iguais¿, afirmou Amorim em coletiva de imprensa no Palácio Itamaraty, na quinta-feira.

Menos diplomático e muito irônico, o ex-presidente cubano Fidel Castro pediu em sua coluna no jornal Granma que fosse concedido um prêmio Nobel a Hillary por escolher Arias como mediador da crise em Honduras e reforçar o golpe de Estado. ¿Só falta algo para premiar a ideia genial ianque de consolidar o golpe e desmoralizar os órgãos internacionais que apoiaram Zelaya¿, disse.

Novas eleições O mandato de Zelaya termina em janeiro de 2010 e o governo interino já planeja convocar novas eleições presidenciais no país, previstas para novembro, ainda que a comunidade internacional considere o ato ilegítimo. Mas, para começar a organizar a sucessão presidencial, Micheletti convidou três senadores do Partido Republicano para visitar o país. Os americanos chegaram ontem ao meio-dia à capital hondurenha, Tegucigalpa, para se reunir com o presidente interino, empresários e autoridades dos partidos políticos.

Ontem, os militares em Honduras ergueram diversas barreiras na rodovia que chega à fronteira com a Nicarágua. Eles receberam uma ordem judicial para prender Zelaya, caso tente entrar novamente no país. Ele continua numa cidade nicaraguense a 30km da fronteira. A cerca de 50km dali, sua mulher, Xiomara Castro Zelaya, permanece retida por uma barreira militar. ¿Nós temos a esperança de que conseguiremos chegar à fronteira, apesar do toque de recolher¿, afirmou. Ela revelou ainda que Zelaya pretende ir a Washington na próxima terça-feira para se encontrar com Hillary.