Título: Preços de imóveis na mira
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 31/03/2011, Economia, p. 23

Dois índices do mercado imobiliário serão usados para aperfeiçoar as projeções de inflação

BRASÍLIA. Depois de avisar que acompanhará com lupa a evolução da inflação para calibrar a intensidade da política de juros daqui por diante, o Banco Central (BC) anunciou ontem novos indicadores para monitorar os preços. A partir de agora, os relatórios de inflação vão levar em consideração dados sobre o pujante mercado imobiliário brasileiro.

O BC vai acompanhar o índice FipeZap, que mede os preços dos imóveis residenciais em seis capitais e no Distrito Federal. E o IGMI-C, da Fundação Getulio Vargas, com as variações no mercado imobiliário comercial. Perguntado sobre a possibilidade de haver uma bolha nesse setor, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, foi reticente:

- Bolha a gente só sabe que existe quando estoura.

O acompanhamento dos indicadores visa a aumentar o número de informações disponíveis e expurgar variáveis que possam distorcer as expectativas do mercado e da sociedade. Os dois índices foram criados com o apoio do BC e poderão ajudá-lo a avaliar melhor o peso dos imóveis na inflação em um momento em que a valorização parece generalizada nas regiões metropolitanas do país, sobretudo em função de Copa e Olimpíadas.

O BC também decidiu detalhar as expectativas do mercado para os índices de inflação. Em vez de divulgar apenas a média das projeções dos cerca de cem analistas ouvidos mensalmente, também o fará por segmentos: bancos, gestores de recursos e demais (consultorias, corretoras, distribuidoras, empresas do setor produtivo).

Cada um deles corresponderá à expectativa de entre 30 e 40 analistas. O BC ainda não resolveu se divulgará em separado as estimativas das consultorias. Há quem diga que os interesses que movem os analistas de mercado podem influenciar as projeções dos índices de inflação, alterar as expectativas da sociedade e até direcionar as políticas do BC.

As mudanças, que já constam do Relatório de Inflação, passarão a valer nas atas mensais do Copom. No boletim Focus, que é semanal, devem ocorrer no terceiro trimestre. O BC ainda vai trocar a estimativa dos Top5 (as cinco instituições que mais acertam as projeções) pelos Top10. O período de acertos considerado também muda: de seis para 12 meses.

- O indicador Top10 tende a ser mais estável - disse Hamilton. (Vivian Oswald)