Título: Queda de braço no mercado leva dólar a R$1,629
Autor: Carneiro, Lucianne; Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 31/03/2011, Economia, p. 25

Recuo foi de 1,51%, apesar de atuação do BC. Nesta virada do mês, bancos apostam na baixa da cotação

RIO, BRASÍLIA e NOVA YORK. O dólar caiu ontem 1,51%, para R$1,629, o menor nível desde 22 de agosto de 2008 - quando chegou a R$1,622. Um dos fatores que contribuiu para o alívio do mercado foi o fato de que o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre compras no exterior com cartão ter ficado abaixo do que os analistas previam. Além disso, como hoje é o último dia do mês, muitas instituições pressionam para forçar para baixo as cotações do dólar, para ter menos a pagar na liquidação financeira dos contratos futuros de câmbio. Boa parte dos bancos está com posições vendidas.

O Banco Central divulgou que o fluxo cambial (entrada e saída de moeda estrangeira) em março, até o dia 25, ficou positivo em US$10,517 bilhões. Ou seja, entrou mais dinheiro do que saiu, pressionando o valor do dólar ainda mais para baixo.

- A expectativa (das medidas para segurar a queda do dólar) foi grande e massacrante. Na atual situação do câmbio, o mercado esperava algo mais forte e acabou se decepcionando com o IOF - disse o gerente de câmbio da Treviso Corretora de Câmbio, Reginaldo Galhardo.

Para o economista-chefe da BGC Liquidez, Alfredo Barbuti, o anúncio do IOF "tirou a espada do pescoço do mercado". Mas ele aponta que outros fatores acabaram corroborando para o movimento de ontem, como a redução de aversão ao risco, com melhora nas bolsas internacionais, e também a proximidade da formação da taxa Ptax (média das taxas de transação, ponderada pelo volume), que ocorre no fim do mês.

Ontem, o Banco Central realizou dois leilões de compra do dólar no mercado à vista, com montante estimado em US$100 milhões. E também fez um leilão de swap cambial reverso (que equivale a uma compra de dólares no mercado futuro). A operação movimentou cerca de US$290 milhões, com a venda de apenas 5.850 contratos dos 30 mil ofertados.

O fluxo cambial no acumulado do ano, até dia 25, já atingiu US$33,450 bilhões, bem superior ao registrado em todo 2010, que foi de US$24,354 bilhões. Até o dia 25 de março, o BC interveio retirando dólares do mercado, por meio da compra de US$8,003 bilhões, somando operações à vista e a termo (com data de liquidação no futuro próximo).

Mercado externo e relatório de inflação ajudam Bolsa

E a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou ontem no território positivo, influenciada pela melhora do humor em Wall Street e pelo cenário mais otimista para a inflação do Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central. O Ibovespa, referência do mercado, subiu 0,86%, aos 67.997 pontos, a maior pontuação desde o dia 4 de março. Em Wall Street, o índice Dow Jones subiu 0,58% e o S&P 500, 0,67%. Já o Nasdaq teve ganho de 0,72%.

- O relatório do BC trouxe um cenário mais otimista para a inflação e a avaliação de que alta de juros pode estar mais perto do fim. Além disso, a ausência de notícias negativas ajudou as bolsas internacionais - apontou o gestor de renda variável do Paraná Banco, Leonardo Boguszewski.

A maior alta do Ibovespa foi de Cesp PN, de 4,22%, para R$31,58, após notícias de que o governo federal poderia resolver ainda em 2011 a renovação das concessões de geração de energia que expiram em 2015, abrindo espaço para a privatização.