Título: Fiocruz quer fazer teste rápido
Autor: Alves, Maria Elisa; Freitas, Walmor
Fonte: O Globo, 31/03/2011, Rio, p. 12

Exame que identifica doença no 1º dia começa a ser usado no Rio

Quando a dor de cabeça fica insuportável e a dor no corpo impede qualquer movimento, a dúvida começa: doentes e médicos ficam sem saber se o caso é um exemplo da temida dengue ou apenas uma virose sem gravidade. Normalmente, é preciso esperar até o quinto dia dos sintomas para que um teste detecte se o paciente foi infectado pelo Aedes aegypti. A demora no diagnóstico preciso, porém, pode estar com os dias contados. A Fiocruz está tentando importar tecnologia da Coreia do Sul para passar a fabricar no Rio os kits do "duo teste", capaz de identificar a dengue nas primeiras horas e, ao mesmo tempo, determinar se o paciente já teve a doença anteriormente.

O assunto é tratado com sigilo na instituição, mas um dos seus funcionários confirmou que os testes feitos com o kit foram bem-sucedidos e que é preciso apenas o aval do Ministério da Saúde, para que ocorra a negociação para a transferência de tecnologia e a posterior produção. Pelos cálculos da Fiocruz, cada exame, que precisa apenas de umas gotas de sangue e alguns minutos para ficar pronto, custaria cerca de US$6 (R$9,9). Pesquisadores foram à Coreia do Sul no ano passado para conhecer o método e voltaram encantados.

- O teste tem uma boa eficácia, faria toda a diferença. É para uso ambulatorial, indiscriminado - diz um dos funcionários da Fiocruz.

Oficialmente, a BioManguinhos, o órgão da Fiocruz que produz kits, confirma que houve a viagem e há interesse na produção do teste. No entanto, diz que toda a negociação fica a cargo do Ministério da Saúde, que, por sua vez, informou apenas que o órgão tem interesse em que sejam ofertados pelo mercado produtos de qualidade e com baixo custo. Segundo a assessoria de imprensa do ministério, caso o processo de fabricação pela Fiocruz atenda a esses atributos, obviamente passa a ser interessante.

Enquanto a produção nacional não decola, um exame semelhante, capaz de detectar o antígeno NS1, que identifica a dengue, tem sido usado com parcimônia no Rio, tanto na rede estadual quanto na particular. O estado, por exemplo, comprou 20.500 unidades e pagou, no pregão eletrônico, R$41 cada uma. Segundo Alexandre Chieppe, mais da metade dos kits, distribuídos aos municípios, já foi usada.

- Eles são recomendados em casos graves, de grande dúvida diagnóstica. Se forem usados de forma indiscriminada, podem dar um falso-negativo. E aí como se faz? Não se trata o paciente como se ele tivesse dengue porque o teste deu negativo? Qualquer paciente com dor no corpo e febre tem que ser tratado como se estivesse com essa doença - diz Chieppe. - Se o médico não suspeitar de dengue, será que vai aplicar o teste?

Na rede particular, o laboratório Richet foi um dos primeiros a importar os kits. O exame que detecta a dengue nas primeiras horas após a picada do mosquito custa cerca de cem reais.

- Já realizamos cerca de 500 exames este ano. Ele é muito útil, particularmente em crianças que não sabem relatar o que sentem - diz Hélio Magarinos, diretor do laboratório.

Na rede D"Or, o exame está disponível desde a semana passada, mas há critérios para a utilização: ele é usado em gestantes e idosos, pacientes com sintomas de agravamento da doença, crianças com alguma doença crônica (como asma) e doentes imunodeprimidos (com Aids e câncer, entre outras enfermidades).