Título: Epidemia atinge mais 3 cidades
Autor: Alves, Maria Elisa; Freitas, Walmor
Fonte: O Globo, 31/03/2011, Rio, p. 12

Já são dez os municípios fluminenses que registram grande número de casos de dengue

ORio já tem dez municípios com epidemia de dengue, três a mais do que na semana passada. Passaram a integrar a lista de municípios com muitos casos da doença Cabo Frio, Cordeiro e Silva Jardim. Já estavam em situação grave Bom Jesus do Itabapoana, Cantagalo, Santo Antonio de Pádua, Magé, Mangaratiba, Guapimirim e Seropédica. Desde janeiro, já foram notificados 31.412 casos no estado, que registrou no mesmo período do ano passado 4.188 vítimas. A doença transmitida pela mosquito Aedes aegypti já matou 23 pessoas em 2011. A capital registrou o maior número de mortes - sete. Nova Iguaçu, São João de Meriti e São Gonçalo tiveram três óbitos cada, enquanto Duque de Caxias registrou dois. Uma morte foi notificada em cada um dos seguintes municípios: Magé, Cabo Frio, Maricá, Mesquita e São José do Vale do Rio Preto.

Números só não caem na capital

Apesar da atual taxa de letalidade da doença ser de 1,9% - no fim de fevereiro, era de apenas 0,1% -, o superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria estadual de Saúde e Defesa Civil, Alexandre Chieppe, está otimista. Segundo ele, todos os municípios, com exceção da capital, vêm registrando queda no número de infectados pelo mosquito.

- A tendência agora é de diminuição. O pico da doença foi a primeira quinzena de março. Todas as cidades estão tendo queda no número de casos, com exceção da capital. Estamos acompanhando a situação da Zona Oeste da cidade, onde têm sido registrados mais casos - diz Chieppe.

Na capital, já foram notificados 12.261 casos da doença este ano. Anteontem, eram 817 registros a menos. Não é à toa que a Zona Oeste tem preocupado as autoridades do estado: dos 817 novos casos contabilizados em 24 horas, 566 são da região, que engloba Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Grande e Pequena, Santa Cruz, Realengo e Bangu. A Secretaria municipal de Saúde informou que estão programados nessas áreas mutirões e outras atividades de combate aos focos do Aedes aegypti, incluindo o uso do fumacê.

- Para melhorar o atendimento, pois identificamos que estava demorando três horas, as unidades de saúde do município passaram a receber pacientes até mais tarde na Zona Oeste. Isso já melhorou a situação - diz Chieppe.

De acordo com o superintendente, todos os locais com epidemia já montaram, ou estão prestes a ter, tendas de hidratação, fundamentais para tratar pacientes com dengue. As cidades mais afetadas também estão sendo contempladas com a passagem do fumacê:

- Cabo Frio e Silva Jardim já receberam todos os insumos e devem montar os locais para hidratação ainda esta semana.

Em Cabo Frio, já são 1.200 vítimas

Cabo Frio já contabiliza 1.200 vítimas da doença este ano. Para reforçar o combate ao mosquito, o 18º Grupamento do Corpo de Bombeiros, em parceria com a Secretaria de Saúde da cidade, vai receber de volta 30 homens que haviam sido transferidos em função da tragédia na Região Serrana, atingida por enxurradas em janeiro. De acordo com o major Ricardo Esteves, responsável por coordenar as ações de combate à dengue no município, é importante que a população permita a entrada de agentes de saúde em suas casas:

- Precisamos que as pessoas nos ajudem, denunciando possíveis focos e vizinhos veranistas que possuam piscinas.

Segundo a Superintendência de Saúde Coletiva de Cabo Frio, os bairros de Aquarius, Unamar, Jardim Esperança, Jardim Caiçara, Jacaré, Parque Burle, Palmeiras, Guarani, São Cristóvão e Porto do Carro apresentam o maior número de casos.

Ontem, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade ficou cheia. Uma das que procuraram atendimento foi a dona de casa Tânia Santana da Silva, de 20 anos, que descobriu por acaso que a filha, Alicia da Silva Rosa, de nove meses, estava com dengue. Ela foi à UPA porque achou que a criança, com febre e vomitando, estava tendo reação à vacina contra hepatite que tomara na véspera. Mas, durante o exame clínico, a médica suspeitou de dengue.

Ainda em Cabo Frio, segundo o médico Paulo Campos, diretor do Departamento de Vigilância Sanitária, as ações de combate são feitas diariamente por 140 agentes, que visitam casas e aplicam inseticida.

- Retornamos esta semana com o fumacê, inclusive com dois carros do estado - disse.

Outras cidades, como Angra dos Reis, Campos, Maricá, Três Rios e Itaboraí, resolveram inovar e, em vez do carro-fumacê, adotaram a moto-fumacê. Batizado de motofog, o equipamento é capaz de dosar a quantidade de inseticida de acordo com a área. E tem acesso mais fácil a becos e vielas, o que torna melhor seu uso em comunidades pobres.

- A moto tem um painel no guidão que permite controlar quanto inseticida vai ser aplicado, dependendo da região. Ela tem autonomia de duas horas - diz o inventor do equipamento, Marcius Vitório da Costa.

No Nordeste do país, mais um estado registrou a circulação do vírus tipo 4 da dengue. Depois da Bahia e do Piauí, Pernambuco confirmou ontem dois casos causados por esse vírus. Os pacientes são um homem de 27 anos, morador do município de Serra Talhada, e uma mulher de 59, que vive em Serrita. Segundo a Secretaria estadual de Saúde de Pernambuco, os dois estão curados e já retomaram suas atividades normais.

As vigilâncias epidemiológicas do estado e dos municípios estão investigando os casos, para saber se os pacientes viajaram ou tiveram contato com pessoas de outras regiões.

COLABOROU Célia Costa