Título: Bolsonaro diz que se lixa para movimento gay
Autor:
Fonte: O Globo, 31/03/2011, O País, p. 9

Presidentes da Câmara e do Conselho de Ética dizem que declarações de deputado são absurdas e lamentáveis

BRASÍLIA e RIO. Mesmo diante da polêmica provocada por suas declarações consideradas homofóbicas e racistas, levadas ao ar segunda-feira no programa CQC, da TV Bandeirantes, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) afirmou ontem não temer as investigações na Câmara dos Deputados, onde é alvo de pedido de investigação por quebra de decoro parlamentar, o que poderá levar à cassação de seu mandato. Ele disse que se equivocou nas declarações, mas manteve as críticas contra gays e o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). No velório do ex-vice-presidente José Alencar, disse não se importar com as reações de movimentos gays:

- Soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde. O que falei, ou eu me equivoquei ou houve um equívoco de edição. A minha resposta não bate com a pergunta. (Quanto aos processos) estou me lixando para esse pessoal aí - afirmou.

O parlamentar negou que seja homofóbico:

- Cada um faz o que quiser com o seu corpinho cabeludo. Não tenho nada contra. É problema deles. O que eles têm para me oferecer não me interessa.

O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-SP), enviou ontem à Corregedoria da Casa representações contra Bolsonaro. O corregedor, Eduardo da Fonte (PP-PE), afirmou que será aberta sindicância para apurar se Bolsonaro quebrou o decoro. Maia criticou as declarações de Bolsonaro, inclusive no Twitter, classificando-as como lamentáveis e "herança de um passado que não aceitaremos que se repita nunca mais".

Já o corregedor afirmou que abrirá a sindicância e disse que o fato de ser do mesmo partido de Bolsonaro não vai interferir na investigação.

Anteontem à noite, duas representações já tinham sido apresentadas por deputados contra Bolsonaro. Ontem, chegaram outras duas: da Secretaria de Igualdade Racial do governo federal e da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro. Aberta a sindicância, Bolsonaro será notificado e terá cinco dias para apresentar sua defesa. Se entender que houve quebra de decoro, Fonte submeterá seu parecer à Mesa Diretora da Câmara, que decidirá se representará contra Bolsonaro no Conselho de Ética da Casa.

O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PDT-BA), considerou ontem insensatas e absurdas as declarações de Bolsonaro:

- Ele se excedeu. Achei um verdadeiro absurdo. Não é uma atitude para um parlamentar.

O líder do PP na Casa, Nelson Meurer (PR), avisou que Bolsonaro vai prestar as explicações à corregedoria, mas descartou retirá-lo da Comissão de Direitos Humanos. Para Meurer, as declarações de Bolsonaro foram radicalizadas e a pergunta feita por Preta Gil, maliciosa.

- Preta Gil fez uma pergunta maliciosa, fora do esquadro. Estavam falando sobre homossexualismo. Lógico que ele respondeu radicalmente e terá que esclarecer suas razões. Não concordo com a pergunta que a Preta Gil fez, nem com a resposta radical dele, mas é um problema dele - disse Meurer.