Título: Mesmo com atuação do BC, dólar recua 1,16% e atinge R$1,612
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 02/04/2011, Economia, p. 32

Moeda caiu 2,89% na semana e estima-se que fique abaixo de R$1,60

Apesar de o Banco Central ter voltado a atuar com força no mercado de câmbio - com quatro intervenções -, o dólar voltou a registrar forte queda ontem. A moeda americana recuou 1,16%, para R$1,612, o menor nível desde 21 de agosto de 2008, quando atingira R$1,661.

No ano, o dólar subiu 3,24%, sendo 2,89% apenas na última semana. Ontem, foram três leilões de compra no mercado à vista e um leilão de swap cambial reverso (que equivale a compra no mercado futuro). Nos últimos dias, outros fatores pesaram para a desvalorização da moeda americana além do fluxo de entrada de recursos estrangeiros.

As medidas enfim anunciadas pelo BC para o câmbio - aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre compras no exterior e do prazo para incidência do IOF sobre empréstimos captados no exterior - ficaram abaixo do esperado pelo mercado. E o fim do mês também registra uma pressão maior de instituições para forçar as cotações do dólar para baixo, para ter menos a pagar na liquidação financeira dos contratos futuros de câmbio.

E não há perspectivas de grandes mudanças, já que analistas acreditam que a tendência ainda é de valorização do real.

Ibovespa avança e ultrapassa os 69 mil pontos

Na avaliação do gestor de renda fixa da Leme Investimentos, Paulo Fernando Petrassi, o dólar deve ficar abaixo de R$1,60 a curto prazo.

- O Brasil tem risco abaixo dos 200 pontos, taxas de juros de 11,75% e reservas elevadíssimas. O fluxo vai continuar forte e o nível de R$1,60 deve ser rompido logo - diz Petrassi.

Para o diretor de câmbio da corretora Renova, Carlos Alberto Abdala, o mercado esperava que o Banco Central fosse trazer a inflação para o centro da meta, o que indicaria uma política de juros mais forte. E o Relatório de Inflação do BC sinalizou um contexto diferente.

- O mercado está mal criado, já que não imaginava que o Banco Central aceitaria uma inflação mais alta e tinha montado posições para um outro cenário. Agora, está querendo mostrar que a política do BC está errada - afirma Abdala.

O sócio da Oren Investimentos Adriano Fontes acredita que o recuo recente reflete, principalmente, uma sinalização do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que não haverá medidas mais fortes para conter o real.

- O mercado só vai comprar dólar se o achar que o BC vai segurar a moeda, que virão mais medidas - aponta Fontes.

Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ontem o quarto pregão seguido de alta. O Ibovespa, referência do mercado, subiu 0,99%, aos 69.268 pontos. Ações de empresas ligadas à economia doméstica, como do setor de construção, ajudaram a puxar o índice. Na semana, o índice registrou ganho de 2,22%.