Título: Trem-bala no alvo das empresas de tecnologia
Autor: Tavares, Mônica; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 07/04/2011, Economia, p. 24
Setor se une a construtoras para participar da disputa, mas adiamento do leilão deve ser anunciado hoje
BRASÍLIA. As negociações para formar os grupos que vão disputar a licitação do Trem de Alta Velocidade (TAV), interligando Rio-São Paulo-Campinas, estão cada vez mais acirradas. Segundo uma fonte do governo, elas se transformaram em um "leilão de empresas de tecnologia" - são cinco no total sendo cortejadas por dois grupos de construtoras. Esta é a principal razão para o governo conceder mais prazo para que os grupos fechem suas propostas. O novo adiamento do leilão, marcado para o próximo dia 29, será anunciado hoje e não deverá ultrapassar 90 dias.
Esse será o segundo adiamento do leilão, que estava marcado para 16 de dezembro do ano passado, na Bolsa de São Paulo.
De um lado da mesa de negociações estão as grandes empreiteiras (Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez). No governo, apesar de a Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas ter sinalizado inicialmente que participaria do leilão, a crença de que isto possa acontecer é muito pequena. Portanto, a tendência é a formação de apenas dois grupos de construtores.
Do outro lado estão as companhias que representam as tecnologias sul-coreana (Hyundai), francesa (Alstom) e espanhola (Talgo). Elas brigam entre si. Os que detêm as tecnologias japonesa e alemã "estão menos animados em ser sócios do empreendimento" e correm por fora. Elas tentam fazer pressão para mudar o modelo da licitação, mas esta possibilidade foi descartada pelo governo. Além de significar um atraso superior a um ano na licitação - todo o processo seria reiniciado -, o governo teria que arcar com o custo de R$24 bilhões do projeto (valor das obras civis). O trem-bala está orçado em R$33 bilhões, dos quais 60% serão financiados pelo BNDES.
As empreiteiras, que inicialmente pediam a mudança do modelo, desistiram e, segundo os técnicos, depois de estudarem o projeto, já não têm mais dúvidas quanto ao custo das obras. Elas concordam com as previsões de demanda feitas pelo governo em 2008, em um momento econômico diferente, de retração e, portanto, mais conservadoras. A expectativa é que o número de usuários do trem-bala nos próximos anos seja maior.
A tecnologia que for usada no TAV será a que aplicada também em outros trechos a serem licitados no país. O governo acredita que quando o trem-bala começar a funcionar, haverá estímulo para os outros. Os próximos trechos serão SP-Curitiba - com topografia complicada, mas existe um atrativo porque o aeroporto de Curitiba fecha muitas vezes -, SP-Belo Horizonte (BH) e SP-Triângulo Mineiro.
A Câmara manteve ontem a criação da Empresa do Trem de Alta Velocidade (ETAV) e a autorização para que a União ofereça garantias na concessão do empréstimo de até R$20 bilhões do BNDES ao consórcio que vencer a licitação para construção do trem-bala. A ETAV coordenará a transferência tecnológica do trem-bala e eventualmente a participação da União no processo.
Os destaques que tentavam inviabilizar a criação da empresa e o aporte de recursos foram rejeitados pelo plenário da Câmara, que aprovara na véspera o texto-base como enviado pelo governo. Ao contrário do que ocorreu anteontem, a oposição não obstruiu as votações.