Título: Mercado volta a elevar a projeção de inflação para este ano para 6,02%
Autor: Doca, Geralda; Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 05/04/2011, Economia, p. 20

Número consta da pesquisa Focus, feita pelo BC junto a analistas

BRASÍLIA. A expectativa do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 e 2012 voltou a se deteriorar, depois que o Banco Central (BC) divulgou, na semana passada, o Relatório Trimestral de Inflação, com um plano de voo para trazer o indicador ao centro da meta apenas no próximo ano. Numa demonstração de pouca confiança na política monetária e nas medidas macroprudenciais de restrição ao crédito, a projeção dos cerca de 80 analistas ouvidos pelo BC na pesquisa Focus subiu (pela quarta semana consecutiva) de 6% para 6,02%, em 2011, e de 4,91% para 5%, em 2012.

Para Juan Jensen, sócio da consultoria Tendências, a piora nos cenários está relacionada à atuação do BC na emissão de sinais de que o aperto monetário será menor que o considerado necessário pelo mercado para enfrentar o aumento de preços. Trazer a inflação para o centro da meta em 2012, destacou, implicaria em medidas mais duras, como uma subida drástica na taxa de juros.

- Mas não é isso que o BC tem demonstrado, que fará tudo que for necessário para baixar a inflação - disse Jensen, acrescentando que aposta numa convergência para o centro da meta de forma suave.

Preocupação com risco de novas altas de preços

De acordo com Jensen, o BC subestimou o problema em 2010 e o resultado foi uma inflação muito acima das expectativas no início deste ano. Jensen prevê uma desaceleração nos próximos meses, mas alerta que os riscos de inflação ainda não foram contornados, como é o caso de alta de preço de commodities.

- Todo mundo está vendo a inflação de 6%, com expectativa de piora no segundo semestre, quando vai romper o teto da meta de 6,5%. Se todo mundo acha que a inflação subirá, vai ter uma atitude defensiva e remarcar seus preços - destacou Elson Teles, da Máxima Asset Gestora de Recursos.

Segundo Teles, o BC está sozinho ao insistir num cenário otimista. As expectativas das instituições incluídas no Top 5 (que mais têm acertado nas projeções e que fazem parte do Focus) para a inflação são ainda piores: 6,41% (curto prazo) e 6,42% (médio prazo) para 2011 e 5% e 5,18% (respectivamente), para 2012, considerando a mediana.

A equipe econômica foi a campo para, em conversas reservadas, reafirmar que o BC não está parado e fará "o que estiver a seu alcance" para que a inflação ceda o máximo até dezembro, convergindo ao centro de 4,5% o mais cedo possível em 2012. A previsão oficial do Banco Central é que 2011 termine com IPCA a 5,6%, "mas pode ser menos", disse um interlocutor do governo. E, no fim do primeiro semestre de 2012, a expectativa é que o IPCA já rode a 4,4% no acumulado em 12 meses.

- Só vamos vencer o ceticismo com os números quando eles começarem a virar. O mercado ainda está muito influenciado pela inflação corrente. Não é o BC que está aceitando um pouco mais de inflação, ela é uma realidade no mundo todo - afirmou uma fonte ao GLOBO.

Um dos dados que a equipe econômica está usando para justificar seu argumento é que 21 economias que utilizam o regime de metas - incluindo a União Europeia, o Reino Unido, a Austrália e o o Chile - estão trabalhando perto ou acima do teto, que, no Brasil, é de 6,5%.