Título: Zelaya nega convite
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 27/07/2009, Mundo, p. 12

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, recusou ontem o convite da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, para encontrá-la amanhã em Washington e voltar a buscar uma saída conciliatória para a situação. ¿Se alguém quiser falar comigo que venha aqui a Ocotal. Aqui posso atendê-lo¿, disse, em resposta a Hillary. Zelaya e a família dele estão acampados na fronteira com a Nicarágua. O presidente deposto permanece do lado nicaraguense, entre os municípios de El Ocotal, Estelí e Las Manos. A mãe, Hortencia, e a mulher, Xiomara Castro, além dos filhos, ficaram do lado hondurenho, no departamento de El Paraíso. ¿Vamos montar um acampamento com água e comida... Vamos permanecer tarde e noite... Esperando as pessoas que vêm, esperando minha família¿, disse Zelaya.

O hondurenho avalia que a comunidade internacional deveria ser mais efetiva para devolver-lhe a presidência do país e derrubar a ¿ditadura¿ do presidente interino, Roberto Micheletti. ¿Que a Casa Branca deixe de evadir o tema da ditadura, que a enfrente com força para que saibam realmente qual é a posição dos Estados Unidos em relação a esse golpe de Estado¿, reclamou, por alto-falante. ¿Esperamos que a América Latina (...) condene esse golpe, mas que nos ajude a tirar os ditadores para que volte a paz¿, completou.

O governante permanece na fronteira desde a sexta-feira passada e sua chegada levou vários simpatizantes a se reunir nos dois lados. ¿Continuam chegando hondurenhos, passando todos os pontos fronteiriços apesar da repressão, e ali dormiram onde está minha esposa e filhos, apesar de que os militares continuam a reprimir as liberdades públicas¿, reclamou. As autoridades aplicaram o toque de recolher do meio-dia da sexta-feira às 6h de ontem. Mesmo assim, muitos manifestantes conseguiram burlar o controle das 15 barreiras policiais e militares na estrada que leva à fronteira, por meio de pontos cegos na região. A maioria dos manifestantes enfrenta o calor do sol durante o dia e a chuva à noite, mas quer acompanhar de perto o desenrolar dos acontecimentos.

Zelaya está na Nicarágua como convidado do presidente Daniel Ortega e na qualidade de presidente constitucional de Honduras. Ambos os chefes de Estado são aliados pela Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), um projeto de colaboração regional socioeconômico e militar. Alguns políticos de oposição ao governo de Ortega anunciaram ontem que vão pedir a retirada de Zelaya do país para evitar conflitos na fronteira.

A Bancada Democrática Nicaraguense (BDN) informou que levará a proposta ao Congresso Nacional. ¿Vamos pedir oficialmente a saída de Zelaya da Nicarágua, ou que peça o asilo correspondente e se abstenha às regras do asilo, que são bem claras no Direito Internacional¿, disse o integrante do BDN Eliseo Núñez Morales. ¿Parece-me uma barbaridade e uma grande irresponsabilidade que (Zelaya) esteja fazendo basicamente uma convocação a um derramamento de sangue¿, criticou o ex-chanceler e atual deputado do Partido Liberal Constitucionalista (PLC), Francisco Aguirre Sacasa.

O número 29 dias é o tempo que Zelaya está fora de Honduras