Título: Ambientalistas também vão às ruas contra mudança no Código Florestal
Autor: Carvalho, Jailton de; Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 08/04/2011, O País, p. 4

POLÊMICA NO CAMPO

Um dia após ato de ruralistas, manifestação critica projeto de Aldo Rebelo

BRASÍLIA e RECIFE. Ambientalistas e agricultores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) fizeram uma marcha ontem na Esplanada dos Ministérios, em protesto contra a proposta de reforma do Código Florestal, do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A ideia era mostrar que não só ambientalistas, mas agricultores também estão preocupados com o suposto afrouxamento das regras de proteção ambiental, previsto na reforma.

O protesto reuniu cerca de mil pessoas. Anteontem, os ruralistas levaram 15 mil à Esplanada, em defesa da proposta de Rebelo.

- Para fazer mudança no Código Florestal, é preciso dialogar com a sociedade. Não pode ser feita por pressão de um único grupo. Essa é uma questão que diz respeito a toda a sociedade porque não envolve só a agricultura. Estamos falando de vida, do planeta, de alimentos de qualidade e sem agrotóxicos - disse Elisângela Araújo, coordenadora-geral da Fetraf.

Ministra do Meio Ambiente recebe manifestantes

Ao longo do protesto, uma comissão de manifestantes teve uma reunião com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Ela informou ao grupo que, na próxima terça-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, se reunirá com outros ministros para definir uma posição do governo sobre a reforma do Código Florestal. Ambientalistas e agricultores acham que a reunião de ministros é um bom indicativo.

- Isso mostra que o governo tem divergências com o relatório do Aldo Rebelo - afirmou Márcio Santilli, coordenador de Políticas e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA).

Os manifestantes também tiveram encontros com os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Maia disse que seu papel é intermediar a negociação entre as partes envolvidas nas discussões sobre a reforma do código. Sarney prometeu abrir espaço para ambientalistas e agricultores, quando o projeto chegar ao Senado.

Os manifestantes caminharam da Rodoviária até o Congresso, um percurso de pouco mais de dois quilômetros, sem incidentes. As discussões sobre a reforma do Código Florestal vêm se arrastando na Câmara desde o ano passado. Rebelo apresentou proposta que permite a redução das áreas de preservação obrigatória em propriedades particulares. A proposta ainda prevê anistia para agricultores multados por crimes ambientais.

Na próxima semana, ambientalistas e trabalhadores da agricultora vão ganhar apoio importante. Representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciência deverão divulgar nota com críticas ao relatório de Rebelo. Os cientistas entendem que as áreas de proteção ambiental não impedem o aumento da produção agrícola. Para eles, as áreas já desmatadas são suficientes para atender as demandas da produção. Basta aumentar a produtividade.

Stédile e Aldo Rebelo trocam críticas e acusações

O coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, criticou ontem o deputado do PCdoB e ironizou a condição de comunista do parlamentar:

- Somos totalmente contra (as mudanças no código). Ele (Rabelo) beneficia o agronegócio. Que espécie é essa de deputado comunista? O pior conservador é o ex-comunista. Não vim aqui para falar mal de políticos. Mas temos maus exemplos de ex-comunistas, como o deputado Roberto Freire (PPS-SP) e o ex-deputado Raul Jungmann (PPS-PE) - disse Stédile em Recife, no lançamento nacional da campanha "Agrotóxico mata".

Rebelo reagiu às críticas:

- O financiamento de minha campanha não foi, nem dessa vez nem antes, de setores ruralistas. Meu eleitor é urbano. Stédile abandonou os assentados. Vive de financiamento externo e não representa os agricultores, que vivem multados e abandonados nos assentamentos, enquanto ele passeia pela Europa.

O deputado também rebateu a crítica de Stédile de que sua versão do novo Código Florestal significa a apropriação de dinheiro público, ao prever a anistia de multas dos desmatadores:

- A multa é a apropriação pelo Estado de recursos que pequenos agricultores não dispõem. E ele, como não é agricultor, não sabe disso. O meu texto beneficia os agricultores brasileiros, e talvez isso não interessa ao senhor Stédile, que sempre foi conhecido por seu fervor anticomunista, ampliado depois que passou a receber amplo financiamento de ONGs internacionais - disse Rebelo.

COLABOROU: Evandro Éboli