Título: Com aumento do IOF, financiar carro de R$30 mil vai custar mais R$740
Autor: Carneiro, Lucianne ; D"Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 09/04/2011, Economia, p. 26
RIO e SÃO PAULO. O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,5% para 3%, no crédito a pessoas físicas - que começa a valer hoje - pode ter um impacto de até R$739,20 para o consumidor, no caso de um financiamento de 60 meses para a compra de um carro popular por R$30 mil, com taxa de juros de 1,8% ao mês. Segundo uma simulação feita pelo vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), Miguel de Oliveira, a parcela mensal do financiamento sobe R$12,32, para R$846,41. Ao longo de cinco anos, esse aumento representa um aumento de R$739,20 no valor total do financiamento. Na compra de uma TV de R$2 mil, o impacto chega a R$47,28 no fim do crediário.
A elevação do IOF, que tem como objetivo frear o crédito, dividiu opiniões entre analistas. Para alguns, o efeito da medida, isoladamente, será reduzido. Mas, considerando o conjunto de ações iniciadas pelo governo em dezembro para conter a inflação, como o aperto no compulsório dos bancos e as restrições de prazo nos financiamentos de veículos, outros especialistas veem na alta do IOF um desestímulo à tomada de crédito.
- Coloca um pouco d"água na fervura do crédito, que está muito alto - diz Silvio Campo Neto, da Tendências Consultoria. - Porém, o IOF maior vai incidir muito mais nos financiamentos de bens duráveis, no qual os preços estão bem comportados (a inflação em 12 meses neste setor está em 0,52%). É aí que a medida atinge com mais força. Nos serviços, onde a inflação em 12 meses é de 8,5%, não terá efeito algum, é inócua. Por isso, o efeito sobre a inflação não deve ser o que espera o governo.
Financeiras não veem freio na procura por crédito
Homero Guizzo, da LCA Consultores, diz que as medidas adotadas desde dezembro encareceram efetivamente os financiamentos, tanto que já derrubaram o ritmo das concessões de crédito na economia - a contratação de novos financiamentos no primeiro trimestre caiu 1,6% em relação aos últimos três meses de 2010, segundo estudo da consultoria. E o aumento do IOF é uma restrição a mais.
- Sozinho, o IOF maior talvez não tivesse grande efeito. Mas, como vem acumulando medidas, chegamos numa situação no mercado de crédito que é bem menos favorável ao crescimento da demanda. O conjunto da obra é, efetivo, sim - disse Guizzo.
Para a Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos (Acrefi), o aumento da IOF pouco afetará a disposição das pessoas de contratar novos financiamentos, já que o aumento de custo do crédito acaba diluído nas prestações. De acordo com o economista-chefe da entidade, NIcola Tingas, o impacto mais importante se dará sobre as expectativas do consumidor.
- Como desde dezembro o governo está dizendo que quer reduzir a demanda por crédito, o consumidor começa a se perguntar até onde pode se endividar - disse.
Os papéis do setor bancário registraram desvalorização com a decisão do governo de ampliar o IOF para operações de crédito. As units do Santander desceram 3,16% (a R$18,75); Bradesco PN recuou 2,11%, a R$32,45, e Banco do Brasil ON caiu 1,21%, a R$32,75. Itaúsa PN se depreciou em 1,73%, a R$12,44, e Itaúsa ON caiu 0,79%, a R$12,45. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou o pregão de ontem em queda de 0,66%, aos 68.718 pontos. Na semana, o Ibovespa desceu 0,79%.