Título: Mantega: não há improviso nas medidas contra inflação
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 09/04/2011, Economia, p. 27

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reagiu ontem a críticas do mercado financeiro e negou que haja improvisação nas medidas que vêm sendo adotadas para combater a inflação e conter a valorização do real frente ao dólar. Segundo o ministro, o governo não vai permitir a formação de "bolhas" e, sem dar detalhes, disse que continuará fazendo novos ajustes na economia sempre que necessário. No entanto, reconheceu que algumas dessas ações não têm efeito imediato - caso do aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito ao consumidor.

- O governo tem uma estratégia bem definida para a política econômica que vem sendo praticada há vários anos. Nós continuamos nessa estratégia. Não tem nenhum improviso - disse Mantega após participar do seminário "Rumos da economia brasileira", promovido pela revista "Brasileiros".

A declaração do ministro foi uma resposta ao comentário do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega de que o governo tem agido de forma "atabalhoada" e estaria improvisando o que chamou de "processo de ioefização" - uma referência aos recentes aumentos do IOF nos financiamentos para pessoas físicas e nas compras e captações feitas no exterior. Nóbrega afirmou ainda que, caso os ajustes não tenham sucesso, "a conta" será cobrada do ministro.

- Os economistas que fazem essas críticas são favoráveis ao mercado, imediatistas. Querem deixar o mercado fazer o que bem entender - disse Mantega, acrescentando que o governo continuará realizando ajustes "mesmo que contrarie os interesses imediatistas de alguns".

Sobre a crescente valorização do real frente ao dólar, o ministro disse que "os capitais são muito criativos, sempre que você fecha uma porta, eles abrem outra". Para Mantega, é inevitável a valorização da moeda, por causa da enxurrada de capitais para o Brasil (entre janeiro e março deste ano, o saldo foi de US$30 bilhões, contra US$26 bilhões registrados em todo 2010). Mas ele garantiu que impedirá a formação de "bolhas"nos mercados acionário, financeiro e imobiliário:

- Nós vimos no que deu o interesse imediatista, de alguns segmentos do setor financeiro internacional, que queriam ganhar bonificações elevadas a curto prazo e levaram à crise de 2008. Não permitiremos esse tipo de coisa no Brasil.

Para o ministro, "é normal" que algumas medidas não tenham efeito imediato, mas ele salientou que o governo está atento para que o "dinamismo da economia brasileira continue". Ele voltou a citar a projeção de crescimento da economia em 4,5% este ano, com avanço de 5,9% da demanda interna. Mantega assegurou ainda que o governo cumprirá a meta de 3% do superávit fiscal primário para este ano.