Título: Josef Josef e Walter Russel Mead
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 09/04/2011, O Mundo, p. 32
Josef Joffe e Walter Russell Mead acreditam que Barack Obama será reeleito em 2012, embora tenha na economia sua vulnerabilidade. Especialistas em política externa americana, Joffe é editor da revista semanal alemã ¿Die Zeit¿ e Mead é articulista de ¿The American Interest¿. Eles estão no Rio para palestras.
Obama enfrenta dificuldades para aprovar o Orçamento, fechar Guantánamo e fazer a reforma de saúde. É um teste de liderança?
JOSEF JOFFE: Seus índices de aprovação caíram um pouco, mas nada dramático. O mais importante é que, com o resultado das eleições de 2010, ele se moveu para a direita, e acredito que será reeleito.
Ele está mais perto da reeleição hoje do que em novembro?
WALTER RUSSELL MEAD: Há uma dificuldade, a economia. Embora os índices de desemprego comecem a cair e a economia a melhorar, o eleitor ainda não sente isso. Há o medo do crescimento da inflação. Com uma situação de juros baixos, alto desemprego, alto déficit e inflação seria difícil manter um curso de governo. Esse é o maior perigo que o presidente enfrenta.
Alguns o criticam por ter levado muito tempo para entrar na discussão sobre o Orçamento.
MEAD: O presidente não tem muito poder no debate no Congresso. Provavelmente, o pior que poderia fazer seria intervir e ser ignorado.
Obama prometeu terminar duas guerras, mas entrou na terceira...
JOFFE: As três guerras juntas não dão um Vietnã. Walter está certo: a verdadeira vulnerabilidade dele é a economia. E agora, a 16 meses da eleição, os republicanos ainda não têm um candidato decente.
MEAD: Isso é incomum. Jeb Bush é o candidato mais viável, mas as pessoas sentem que, depois de George, é preciso ainda mais uma eleição sem o nome Bush na cédula.
Na Líbia, os EUA deixaram França e Reino Unido tomarem a frente, mas a maior parte das bombas partiu de aviões americanos. Foi uma estratégia de Obama?
MEAD: Sim. Obama está certo em pensar estratégias para que os aliados façam mais. Esse era um caso em que (Nicolas) Sarkozy necessitava desesperadamente fazer algo. Ele tentou nos últimos anos todo tipo de crise. Parece ter achado.
O Congresso não foi consultado sobre a Líbia. Pode tentar contê-la?
MEAD: O único jeito seria cortando custos para a guerra, mas o presidente poderia vetar. Os americanos odeiam Kadafi, por causa de Lockerbie (atentando que matou 270 pessoas). Mesmo quem ache que a política não é muito sábia, ficará contente em ver Kadafi ir embora.
JOFFE: É um bom sujeito para se travar uma guerra. Os americanos, os franceses e os britânicos têm contas a ajustar (com Kadafi).
Há o risco de a comunidade internacional se ver atada, já que os rebeldes não avançam sem o apoio?
MEAD: Meu palpite é que há muita gente interessada em apoiar os rebeldes. Os franceses, os americanos, talvez os egípcios. Os argelinos não querem ver caos na sua fronteira.
JOFFE: Há duas guerras. Uma é pela liberdade. Outra é entre tribos do leste e do oeste. E as tribos do oeste e Kadafi não estão lutando apenas pelo controle territorial, estão lutando por suas vidas. Se queremos que (os rebeldes) vençam, e não estou certo disso, então a zona de exclusão aérea não é suficiente.