Título: Irmãos estão com medo de represálias
Autor: Ramalho, Sérgio ; Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 11/04/2011, Rio, p. 10

Irmãos estão com medo de represálias

Família não sabe se reconhecerá corpo; ex-casa de Wellington foi depredada

BRASÍLIA e RIO. Com medo de represália, os cinco irmãos de Wellington Menezes de Oliveira ainda não decidiram se vão reclamar o corpo do rapaz. Ao mesmo tempo em que sofrem a perda do caçula, os cinco irmãos ¿ dois no Rio e três em Brasília ¿ temem ser reconhecidos e linchados por pessoas revoltadas com o assassinato de 12 alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira.

¿ A decisão não está tomada. A gente não sabe o que fazer (com o corpo de Wellington). Também não sabe o que fazer com casa, roupa, documentos. Estamos sem pai, nem mãe ¿ disse X., um dos irmãos de Wellington, que vive numa cidade- satélite de Brasília e pediu que não fosse identificado.

O GLOBO conversava com X. no momento em que ele recebeu a informação de que populares tinham depredado a casa onde o assassino morou em Realengo, até a morte da mãe adotiva dele, Nicéia Menezes de Oliveira, no ano passado. Nos fundos da casa, mora uma das duas irmãs de Wellington.

¿ Pelo que me falaram, invadiram a casa e estão depredando o patrimônio da família. Cadê a polícia? Não tem. É um patrimônio humilde, mas tem valor sentimental ¿ disse X.

Família não encontra explicações para o crime

Segundo X., se estão destruindo a casa, podem fazer algo pior se encontrarem um integrante da família de Wellington pela frente. Caso não tenha o corpo reconhecido e solicitado por familiares, o assassino deverá ser enterrado como indigente. Numa primeira entrevista, ainda na sexta-feira, X. disse que a família não ousaria pedir o corpo do irmão.

X. e Y., o mais velho dos cinco irmãos, não encontram explicações para o crime cometido por Wellington. Os cinco irmãos já eram adultos quando Wellington foi adotado por Nicéia, logo depois do nascimento do garoto. Nicéia tinha acabado de casar pela segunda vez.

¿ Ele foi criado como filho único. Teve mais conforto que os irmãos. Minha mãe o tratava como um deus ¿ disse Y.

Mas nem tudo foram flores na infância de Wellington. Ainda menino, ele foi apresentado à mãe biológica, Eliete, que vive hoje em Santa Cruz, no Rio. O garoto concordou em conhecer Eliete, mas logo depois se recusou a manter contato com ela. Os irmãos de Wellington não sabem se esse fato teve ou não alguma repercussão na estrutura emocional do menino.

Depois da morte de Nicéia, Wellington deixou o local em que morava com os pais em Realengo, isolando-se em outra casa da família, em Sepetiba. Desde então, os irmãos perderam o contato com ele.

PM passou a fazer escolta na rua de ex-casa de Wellington

Vizinhos da antiga casa onde morou Wellington Menezes de Oliveira com a família, na Rua Cacau, em Realengo, viveram ontem uma madrugada de medo. Com pedras, vândalos destruíram o portão de alumínio da casa. Uma das janelas da frente também ficou com a vidraça quebrada. Desde o início da manhã de ontem, carros da PM passaram a fazer escolta na rua, para garantir que não haja invasões e mais depredações.

Assustados, os moradores do local preferiram não se identificar. A maior preocupação deles é com a possibilidade ter a casa ser incendiada. Na manhã de domingo, uma pessoa chegou a passar em uma moto pela rua e gritar: ¿tem que tacar fogo¿.

¿ O que será das casas que estão no mesmo quarteirão, se incendiarem a antiga casa do Wellington? Vão colocar muita gente em risco ¿ disse uma vizinha.

Até mesmo Robson Moreira Atanásio, pai de Larissa Atanásio ¿ uma das vítimas de Wellington ¿ condenou os ataques à casa, onde umas das irmãs do atirador estava morando até o dia do ataque:

¿ Ele já morreu e quem vendeu a arma já foi preso. O que está acontecendo é que as pessoas estão tentando desabafar, mas não acho isso justo. É um ato de brutalidade também.

Outra moradora do bairro lamentou a depredação por ter conhecido a mãe adotiva de Wellington, que classifica como uma mulher querida por todos e muito carinhosa:

¿ Falava acariciando a gente. Tinha amor pelos filhos. Deu educação e os criou na igreja.

De acordo com outra moradora, os vizinhos que conheciam Wellington estão sofrendo duplamente:

¿ Sofremos por termos conhecido muitos dos meninos e meninas mortos. Mas ficamos abalados também por ver o que fez o rapaz, que a gente viu crescer e cuja mãe era tão bondosa, envolvido num massacre.