Título: Em busca do grupo
Autor: Ramalho, Sérgio ; Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 11/04/2011, Rio, p. 10

`Fantástico¿ revela textos de Wellington que mostram a possível ligação dele com radicais

Arotina de Wellington Menezes de Oliveira nos oito meses que antecederam o ataque a estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira está sendo devassada por uma força-tarefa da Polícia Civil. A identificação dos integrantes de um suposto grupo extremista do qual o atirador teria feito parte, como sugerem textos encontrados num caderno e numa carta que estavam em sua casa, em Sepetiba, é considerada prioridade. Nos textos, revelados ontem pelo ¿Fantástico¿, da Rede Globo, ele escreve que fazia parte de um grupo, cita o atentado de 11 de setembro e destaca que há sites na internet que ensinam como fazer bombas e como conseguir recursos para comprar munição e explosivos. A polícia, entretanto, trabalha também com a possibilidade de as informações nos escritos de Wellington serem delírios resultantes de transtornos mentais.

O material recolhido na casa do assassino mostra ainda que Wellington tentou se inscrever num curso de tiro, pedindo informações específicas sobre o uso de revólver calibre 38. Entre os escritos, numa carta aparentemente dirigida a uma mulher, há muitas referências religiosas e sinais de tendência suicida. Em alguns trechos do manuscrito, ele afirma passar quatro horas por dia lendo o Alcorão: ¿Não o livro, porque ficou com o grupo, mas partes que eu copiei para mim¿, escreveu Wellington. No mesmo texto ele menciona os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington: ¿Tenho meditado muito sobre o 11/09¿.

Anotações trazem nomes estrangeiros

Num trecho com muitos erros de português, ele cita ainda o nome de alguém que teria vindo do estrangeiro: Abdul. ¿Tenho certeza q foi o meu pai quem os mandou aqui no Brasil ele reconheceu o Abdul e mandou que ele viec (sic) com os outros precisamente ao Rio... pq qdo eu os conheci e revelei tudo a eles eu fui muito bem recebido e houve uma grande comemoração¿. Mais adiante, surge um novo nome, Phillip, que teria sido um dos motivos de um desentendimento entre ele e Abdul. ¿Tive uma briga com o Abdul e descobri que o Phillip usava meu PC para ver pornografia.¿ O ¿Fantástico¿ divulgou que uma irmão de Wellington contou em depoimento que o assassino frequentava uma mesquita no Centro do Rio. Representante da União Nacional das Entidades Islâmicas do Brasil, o xeque Jihad Hassan, disse que islamismo ensina a preservar a vida, e não a tirá-la.

Wellington também manifesta vontade em conhecer países islâmicos: ¿...pretendo trabalhar pra sair desse estado ou talvez irei direto ao Egito.¿

O texto estava em um caderno, junto a outros manuscritos: um exercício de inglês e anotações soltas com referências à Malásia, um país de maioria islâmica. Ele anota que é preciso verificar as condições climáticas da Malásia em setembro, mês dos ataques de 2001 em Nova York.

Na casa do atirador, em Sepetiba, que estava muita suja, os policiais encontraram um bilhete deixado na porta da geladeira, dizendo que ele havia destruído seu patrimônio para impedir a ¿identificação do fornecedor¿. Técnicos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) tentam recuperar a memória dos computadores que Wellington danificou. O principal objetivo é identificar os interlocutores do atirador na Internet e determinar se eles usavam a rede para disseminar a ideia de novos ataques.

Um psiquiatra forense do Instituto Médico-Legal (IML) foi designado para elaborar um perfil psicológico do atirador com base no material recolhido pela polícia. A partir da análise, a polícia poderá saber se Wellington tinha as meninas como principal alvo. Dos 12 mortos, dez eram do sexo feminino. Na carta encontrada em sua bolsa, o assassino diz que nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem.