Título: Com inflação em alta, proteção pelos fundos
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 11/04/2011, Economia, p. 21

Aplicações compostas por títulos atrelados a índices de preços ganham espaço. Para analistas, investimento deve ser de longo prazo

JOAQUIM LEVY: gestor pode avaliar não apenas o curto prazo, mas também uma visão mais ampla do cenário

Com a inflação em alta, é cada vez mais importante buscar maneiras de evitar que os ganhos das aplicações financeiras sejam corroídos pela temida alta de preços. Neste cenário, voltam a ganhar destaques os fundos de investimentos atrelados à inflação. Todos os grandes bancos de varejo oferecem fundos deste tipo, com aplicações iniciais a partir de R$50. Esses fundos aplicam em títulos do Tesouro Nacional indexados à inflação, como é o caso das Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-Bs), indexadas ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com isso, protegem o investimento, já que o rendimento acompanha esses índices.

Mas isso não significa que o rendimento será exatamente a oscilação da inflação mês a mês. Além disso, são fundos mais voláteis e, por isso, não são indicados para o curto prazo.

Outra alternativa para o investidor é comprar diretamente os títulos ¿ através do Tesouro Direto. Os fundos, no entanto, permitem uma diversificação maior de prazos dos papéis ¿ alguns compõem a carteira com outros títulos não ligados à inflação ¿, uma gestão mais especializada do administrador e o resgate diário (no Tesouro Direto, isso ocorre apenas às quartas-feiras). Só é preciso ficar atento às taxas de administração cobradas pelas instituições financeiras.

A inflação vem avançando no Brasil e o Banco Central já adotou medidas para conter o crédito e elevou a Selic, a taxa básica de juros da economia, para 11,75% ao ano. Mas a alta do custo de vida segue preocupando e já acumula alta de 6,3% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA de março, perto do teto da meta.

Especialistas lembram que fundos são voláteis

É a proteção contra essa inflação em ritmo de alta que é a principal vantagem deste tipo de fundo, segundo a gerente nacional de desenvolvimento de produtos para Ativos de Terceiros da Caixa, Eliana Motta Vincensi. Ela alerta, no entanto, que esta não é uma aplicação para o curto prazo.

¿ Este é um fundo mais volátil e, por isso, é indicado para investimentos de médio e longo prazos. Além disso, tem a cobrança do Imposto de Renda ¿ aponta.

Como outros fundos, a alíquota de Imposto de Renda cai ao longo do prazo de investimentos. Para aplicações até seis meses, o percentual é de 22,5%. A menor alíquota, de 15%, passa a valer para a partir de dois anos.

A opinião de que esta não é uma aplicação para o curto prazo é compartilhada pelo gerente-executivo de Renda Fixa da BBDTVM, André Abreu. Segundo ele, a volatilidade se deve ao fato de os títulos que compõem a carteira desses fundos serem de longo prazo.

¿ O fundo ligado à inflação não é conservador, porque é mais volátil. Mas é uma opção interessante, porque protege o investidor da inflação. Ele garante seu poder de compra pelo IPCA e ainda ganha rendimento ¿ aponta Abreu.

No caso do Bradesco, por exemplo, os fundos aplicam em ativos indexados à inflação, mas a política de investimentos permite a aplicação também em outros ativos, com o objetivo de buscar boa rentabilidade em diferentes cenários.

A vantagem em relação à compra direta de títulos do Tesouro pelo investidor, explica o diretor de Gestão e Estratégia da Bradesco Asset Management, Joaquim Levy, é a capacidade do gestor de avaliar não apenas o momento de curto prazo, mas também uma visão mais ampla do cenário.

¿ O fundo vai comprar os ativos já no montante ideal, avaliar o preço de inflação futura que já está incluído nos papéis. Este é o papel do gestor ¿ diz Levy.

A exigência de uma aplicação inicial maior ¿ de R$20 mil ¿ se explica porque são fundos de perfil de risco mais moderado.

Apesar de serem uma boa forma de proteção contra a inflação, esses fundos não vão render exatamente a inflação, explica o diretor de renda fixa da HSBC Global Asset, Renato Ramos.

¿ É um fundo bom para diversificação do portfólio. Vai proteger da inflação, mas não significa que rentabilidade mensal será a da inflação ¿ afirma Ramos.

Previsão é que inflação continuará pressionada

Para o superintendente de Renda Fixa do Itaú Unibanco, Ronaldo Patah, o investidor deve lembrar que a inflação tende a ficar pressionada não apenas a curto prazo, mas também a médio prazo, diante da elevação do preço das commodities agrícolas por causa da maior demanda por alimentos no mundo.

¿ A maior preocupação desses fundos é preservar o poder de compra. E isso também para os próximos anos, já que haverá uma mudança no patamar de inflação global ¿ diz Patah.

Por causa disso, o gerente comercial da Icatu Vanguarda, Bruno Horovitz, explica que a gestora tem dois fundos diferentes ligados à inflação: um voltado para o cenário de mais curto prazo ¿ até cinco anos ¿ e o outro de mais longo prazo.