Título: No Senado, ponto controla cada vez menos
Autor: Vasconcelos , Adriana
Fonte: O Globo, 12/04/2011, O País, p. 10

BRASÍLIA. A lista de funcionários do Senado dispensados do ponto eletrônico não para de crescer. E o mau exemplo vem dos próprios membros da Mesa Diretora, que aprovaram a regra para disciplinar a gazeta em toda a Casa. Além dos 1.060 servidores que já haviam ficado fora desse controle - como diretores, servidores lotados nos estados e chefes de gabinete - ontem mais 162 ganharam o privilégio.

Nem os integrantes da Mesa Diretora, que referendaram a proposta de controle de presença dos servidores da Casa adotada pela 1ª Secretaria, estão dispostos a cumprir a medida moralizadora adotada pela instituição no início do mês. A começar pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que dispensou do ponto oito dos 26 funcionários lotados em seu gabinete.

Pelo menos dois de seus colegas de Mesa decidiram fazer o mesmo: o 2º secretário, senador João Ribeiro (PR-TO), e o 4º secretário, Ciro Nogueira (PP-PI). Com 26 servidores lotados na 2ª Secretaria da Mesa, o senador do Tocantins optou por dispensar 16 de seus subordinados do ponto eletrônico. Nogueira tirou do novo controle de presença 20 dos 25 funcionários efetivos e comissionados de seu gabinete.

Na tentativa de impedir que funcionários comissionados e até efetivos recebam salários sem trabalhar, o Senado adotou no último dia 1º de abril um sistema de ponto biométrico, através do qual os servidores comprovam sua presença pela leitura de sua impressão digital. A instituição gastou R$1,154 milhão para a implantação de pelo menos 50 pontos para o controle de presença em diferentes pontos da Casa.

Menos de 15 dias após a implementação do novo sistema, 1.222 dos 6.027 servidores efetivos e comissionados do Senado já foram dispensados do ponto. Outros servidores foram flagrados marcando o ponto e indo pra casa, sem trabalhar.

Servidores da liderança do governo livres do ponto

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), por exemplo, autorizou ontem a dispensa do ponto eletrônico para todos os 27 servidores efetivos e comissionados lotados no gabinete da liderança. Já o líder do PT, senador Humberto Costa (PE), foi um pouco mais comedido: livrou do controle de presença 13 dos 24 funcionários de seu gabinete.

Segundo o Boletim Administrativo Eletrônico de Pessoal publicado ontem na rede interna do Senado, mais cinco senadores seguiram o exemplo dos dois líderes: Benedito de Lira (PP-AL), Clesio Andrade (PR-MG), Fernando Collor (PTB-AL), Francisco Dornelles (PP-RJ) e Ivo Cassol (PP-RO). Destes, só Collor não havia divulgado, até o início da noite de ontem, o número de servidores beneficiados, entre os seus 45 funcionários.

Lira dispensou do ponto 20 dos 34 servidores de seu gabinete; Andrade, 17 de seus 32 subordinados; Dornelles, 12 de 20 e Cassol, 29 de 42. Os senadores alegam que são servidores de confiança, sem horário certo para trabalhar.