Título: Novo referendo contra as armas
Autor: Vasconcelos , Adriana
Fonte: O Globo, 12/04/2011, Rio, p. 12

Opresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), anunciou ontem que pretende submeter aos líderes partidários da Casa uma proposta de revisão do Estatuto do Desarmamento, aprovado em 2003. Diante do clima de comoção nacional provocado pela tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, que deixou 12 adolescentes mortos, Sarney acredita ser possível a realização de um novo referendo popular para tratar do desarmamento.

- Desde o princípio, tenho dito que acho possível tomar uma iniciativa nesse sentido. Vou tratar disso na próxima reunião com os líderes dos partidos para ver se temos condições de votar imediatamente uma lei modificando o que foi decidido no referendo, e fazendo um novo referendo - antecipou Sarney.

Embora mais de 60% da população brasileira tenham votado contra a proibição do comércio de armas e munições, na consulta realizada no dia 23 de outubro de 2005, Sarney tem esperança de que esse resultado seja revertido num novo referendo.

- Rui Barbosa dizia que só quem não muda são as pedras. O que não se deve é mudar do bem para o mal e do mal para o pior. Nós estamos mudando do mal para o bem, de maneira que eu acho que a população vai ser sensível - observou Sarney.

Paim propõe acordo com fabricantes

O presidente do Senado manifestou ainda seu apoio à iniciativa do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, de convocar uma reunião com organizações não-governamentais para discutir uma nova campanha em favor do desarmamento no país.

- Acho que qualquer iniciativa no sentido de promover uma consciência nacional pelo desarmamento é muito bem-vinda. Toda vez que temos armas no país, evidentemente elas têm por finalidade aumentar o crime - acrescentou.

A proposta de Sarney em favor da realização de um novo referendo popular sobre o desarmamento ainda está, no entanto, longe de ser um consenso dentro do Senado. O líder do governo na Casa e colega de bancada do presidente do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), por exemplo, vê a ideia com restrições.

- Eu defendo o desarmamento, acho que deve haver menos armas nas ruas. Sou a favor de uma ampla discussão desse assunto com a sociedade. Sou a favor de ampliarmos a conscientização a respeito desse assunto. Mas esse plebiscito deve acontecer apenas como resultado de um amplo debate - ponderou Jucá.

O senador Paulo Paim (PT-RS) é outro que questiona a realização de um novo plebiscito sobre o desarmamento. Na opinião dele, um acordo entre o governo federal e as empresas que produzem e comercializam armas no país poderá ser mais eficaz e barato.

- Em vez de um referendo, talvez seja mais eficaz construir um acordo pelo qual o Estado passa a ser o único comprador da produção de armas no país, vedando o comércio de armas no mercado interno - sugeriu Paim.

Já para o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), qualquer iniciativa no sentido de se reabrir o debate nacional sobre o desarmamento deve ser apoiada.

- Fui favorável à proposta do desarmamento total da população discutido no referendo de 2005. Qualquer possibilidade de retomarmos esse debate terá o meu apoio - adiantou o senador tucano, embora considere que a tragédia ocorrida na semana passada em Realengo tenha sido motivada por problemas mentais do assassino, desencadeadas possivelmente por bullying sofrido pelo agressor quando estudante.