Título: Suspender ou não?
Autor: Moraes, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 30/07/2009, Brasil, p. 10

Aluno da rede particular apresenta sintomas, duas escolas interrompem as aulas, mas autoridades não apoiam ¿ nem condenam ¿ a medida

Uma prosaica viagem à Disney, febre e dor de cabeça no primeiro dia de aula depois do retorno das férias e a possibilidade de ter contraído o vírus Influenza A (H1N1). O drama particular de um menino de 11 anos, aluno do colégio Cecap, no Lago Norte, começa a criar um problema inesperado entre o governo local e as escolas particulares do Distrito Federal: é hora de a rede privada seguir os colégios públicos e suspender as aulas?

Para a direção do Cecap, sim. As aulas foram suspensas depois que o garoto, da 5ª série, apresentou sintomas da doença dentro da classe. E o colégio Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul, também decidiu adiar para 6 de agosto o retorno do recesso, anteriormente previsto para hoje, apesar de não ter nem um caso suspeito.

Mas pode não ficar nisso. No Indi Bibia, colégio particular do Lago Norte, a direção diz que também discute a suspensão das aulas. ¿Não tivemos nenhum caso suspeito de gripe, mas a frequência dos alunos está em 60% porque muitos pais estão com medo. Se continuar assim, também podemos suspender as aulas¿, ressaltou a coordenadora da escola, Karin Luchtemberg.

Oficialmente, não há recomendação nesse sentido. ¿A Secretaria de Saúde não recomendou nada sobre o adiamento das aulas. Em princípio, o adiamento na rede pública foi só para orientar os profissionais¿, lembrou o secretário de Educação, José Luiz Valente. ¿As escolas estão se sentindo pressionadas e recorrem ao mais fácil, que é fechar as portas. Suspender por três ou quatro dias não resolve o problema. Se a secretaria mandar suspender, vai ser por mais tempo¿, acredita a presidente do Sindicato das Escolas Particulares, Amábile Pácios.

E essa determinação pode sair na sexta-feira. Haverá uma reunião entre representantes da rede particular e a Secretaria de Educação para reavaliar a postura nas duas redes. Atualmente, há 48 casos da nova gripe confirmados no DF.

Qualquer espirro Independentemente do que for decidido na sexta, é certo que as aulas no Cecap estão suspensas. O garoto, de 11 anos, retornou na semana passada de uma viagem aos parques temáticos da Disney, nos Estados Unidos, e na segunda-feira, durante o primeiro dia de aula após o recesso, reclamou de dor de cabeça e febre. A família relatou que sete pessoas da mesma excursão tiveram sintomas da doença e cinco foram medicadas ainda no exterior.

O aluno foi levado, ainda na segunda-feira, para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e o médico coletou amostras para o exame laboratorial que confirma a doença. O resultado só sai em uma semana, ainda assim a escola decidiu suspender as aulas desde terça-feira.

¿Foi uma medida para proteger as crianças. As aulas serão retomadas na segunda que vem¿, explicou a diretora do Cecap, Kátia Carneiro. Ela lembra que a Secretaria de Saúde pediu que os alunos que tiveram contato com a criança fossem monitorados e que cada criança recebesse uma caixa de lenços. ¿Disseram que, em qualquer espirro, era para retirar a criança do grupo. Assim, perferimos suspender as aulas.¿ A direção decidiu reforçar a limpeza nas salas, com aplicação, seis vezes ao dia, de álcool em gel nas carteiras, quadro e maçanetas.

O colégio também divulgou uma circular aos pais para comunicar o motivo da mudança no calendário. No texto, informa que a escola ¿teve contato com um aluno com gripe suína¿ e que a mãe do garoto também tem sintomas da doença. A Secretaria de Saúde, no entanto, afirma que o resultado do exame não sairá antes de segunda-feira e, por isso, ainda não se pode afirmar que o garoto foi infectado pelo novo vírus.

No colégio Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a direção disse que não há nenhuma suspeita de gripe. Mas a coordenadora do colégio, Ana Cláudia Piña, afirma que a decisão de estender o recesso até 6 de agosto é uma medida de prevenção. ¿Se retomássemos agora, teria o elemento surpresa de não saber quem pode ter pego a gripe. Mas até semana que vem, quem estiver doente já terá apresentado os sintomas.¿

A Secretaria de Saúde informou que a recomendação às escolas é pedir que os alunos menores de 12 anos com sintomas de gripe fiquem em casa por duas semanas e, no caso dos maiores de 12 anos, por sete dias (leia reportagem na página 11).

O infectologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Pedro Tauil avalia que, no caso do Cecap, a decisão de suspender as aulas foi correta. ¿Em três dias já sabemos se outras crianças desenvolvem os sintomas. E os pais devem ser orientados a procurar o médico e não levar à escola.¿

Estados decidem prorrogar as férias

A prefeitura do Rio de Janeiro decidiu prorrogar o recesso para os 740 mil alunos das escolas e das creches municipais por causa da gripe suína. A Secretaria de Educação chegou a anunciar na terça-feira que não alteraria o calendário letivo, mas entendeu que a medida é necessária. Nas escolas, as aulas serão retomadas em 10 de agosto. E nas creches, no dia 17. A doença já matou cinco pessoas no estado.

O governo do Rio Grande do Sul também anunciou ontem a suspensão, por 14 dias, das aulas na rede estadual de ensino. Em Curitiba, cerca de 200 escolas particulares decidiram suspender as aulas até 10 de agosto. O mesmo ocorreu em São Luís, capital maranhense, onde pelo menos 30 escolas privadas estenderam o recesso até o dia 10 por causa da gripe.

O número de mortos pela doença no país subiu ontem para 58. Houve 27 mortes registradas em São Paulo, 21 no Rio Grande do Sul, cinco no Rio de Janeiro, quatro no Paraná e uma na Paraíba. Apesar do avanço das mortes, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, voltou a dizer que a gripe suína não é mais perigosa do que a gripe comum. ¿Isso é um dado irrefutável, um consenso entre especialistas e é uma avaliação da Organização Mundial da Saúde¿, afirmou. O ministro reforçou ainda a orientação para que estudantes com sintomas de gripe fiquem em casa até que estejam curados. Mas ressaltou que a decisão de adiar aulas deve ser avaliada em cada estado. (DM)

Colaborou Flávia Foreque