Título: China libera produção de jatos e importação de carne suína do Brasil
Autor: Scofield Jr , Gilberto
Fonte: O Globo, 12/04/2011, Economia, p. 22

PEQUIM. A "diplomacia de resultados" que a presidente Dilma Rousseff decidiu implementar como filosofia básica no Itamaraty já conseguiu resolver alguns impasses que se arrastavam há algum tempo nas relações comerciais e de investimentos entre Brasil e China. Entre eles, o futuro das operações da Embraer na nação asiática - onde a empresa participa, desde 2002, de uma joint-venture com a estatal Aviation Industries of China II (Avic II) para a produção do ERJ-145, um jato de 50 passageiros considerado pequeno demais para o tráfego no país - ou a compra, pelos chineses, de carne suína brasileira. Três frigoríficos brasileiros foram certificados para exportar carne ao país.

Segundo o embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, a Embraer ganhará sinal verde do governo de Pequim para produzir no país os jatos executivos da família Legacy, um filão que acena com um potencial de venda de 450 aviões nos próximos dez anos. Hoje, pessoas físicas não podem ser donas de jatos executivos ou de helicópteros na China, restrição que vem sendo contornada com a colocação das aeronaves em nome de empresas, privadas ou estatais. Mas a pressão, tanto dos executivos e novos milionários chineses quanto dos maiores fabricantes de jatos do mundo, está fazendo o governo rever a proibição.

Além da fabricação do Legacy, o embaixador brasileiro afirmou que a China dará finalmente à Embraer a licença que a empresa precisa para vender dez jatos ERJ-190, de cem passageiros, para a estatal de aviação Southern China, uma ordem de compra contratada em janeiro e que esperava no limbo o sinal verde de Pequim.

- O governo chinês já entendeu que um superávit comercial brasileiro baseado numa pauta de exportação de três commodities não é sustentável e está disposto a reequilibrar a relação entre Brasil e China - disse Hugueney. - Falta aos empresários brasileiros uma disposição maior para negociar.

Huawei anuncia investimento no Brasil

A presidente comemorou também o anúncio, feito pelo presidente da empresa de equipamentos de comunicação chinesa Huawei, Ren Zhangfei, de um investimento de cerca de US$350 milhões na instalação de um centro de pesquisa, desenvolvimento e treinamento de mão de obra na região de Campinas, onde a companhia já possui uma fábrica. Além disso, a Huawei pretende doar US$50 milhões, em dez anos, em equipamentos de computação para universidades brasileiras.

- Empresas de tecnologia e comunicação da China, como Huawei, ZTE e Foxconn, também estão interessadas em fornecer equipamentos para o Plano Nacional de Banda Larga - afirmou o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, presente ao encontro de meia hora entre Ren Zhangfei e Dilma Rousseff, no qual foi anunciado o investimento da Huawei.

Boa parte dos cerca de 250 empresários que acompanham Dilma já percebeu que, de fato, grandes mudanças no perfil das trocas comerciais sinobrasileiras não acontecerão se depender dos objetivos econômicos chineses, que tendem muito mais à geração de emprego e renda em solo nacional do que para a busca de operações lucrativas em outros países.

- O Brasil precisa direcionar estes recursos para setores de seu interesse - afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade.

As empresas brasileiras também anunciaram investimentos na China. É o caso do frigorífico Marfrig, que informou que colocará cerca de US$300 milhões em duas joint-ventures com chineses (uma com a Cofco, a maior empresa de alimentos do país), voltadas para logística e distribuição de produtos alimentícios, abate de frangos e fabricação de rações animais.

Dilma chegou ontem de manhã a Pequim e passou o dia no quarto do Hotel Saint Regis preparando os textos dos discursos que fará hoje no encerramento do Seminário Empresarial Brasil-China. Ainda hoje ela encontrará o presidente da China, Hu Jintao, com quem assinará atos de parceira e cooperação em cerimônia no Grande Palácio do Povo.

As ações da Embraer chegaram a subir 2,48% ontem. Embraer ON (ordinária, com direito a voto) fechou em alta de 0,31%. Já a ação Marfrig ON teve a segunda maior alta do Ibovespa, de 2,56%, para R$16,05.