Título: 1% a mais de armas = o dobro de mortes
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 10/04/2011, Rio, p. 15

Tese de doutorado mostra que, para cada 18 armas apreendidas, uma vida é salva

O massacre em Realengo põe de volta a questão do controle das armas no centro do debate. A tese de doutorado do economista Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea, defendida em outubro do ano passado, mas cuja última versão foi entregue na segunda-feira da semana passada, traz conclusões contundentes: para cada 1% a mais de armas, os homicídios aumentam 2%. E, para cada 18 armas apreendidas pela polícia, uma vida era salva.

O pesquisador acredita, ainda, que a dificuldade de ter acesso a armas poderia diminuir a gravidade da tragédia de Realengo:

- Uma coisa é ter um desequilibrado e ele não ter acesso a arma, o estrago que ele pode fazer é muito menor. A grande questão é a disponibilidade à arma de fogo. Se não existisse, o desfecho seria outro. Também há a questão da segurança nas escolas públicas. Em qualquer escola particular, é necessário passar por dois ou três seguranças.

O trabalho é baseado em análises estatísticas de padrão internacional. O objetivo é responder a duas perguntas: será que a disponibilidade de armas faz aumentar os crimes violentos? Será que mais armas fazem diminuir os crimes contra a propriedade? O pesquisador, então, levantou dados sobre o número de armas nas cidades de São Paulo entre 2001 e 2007.

- Sabemos que 80% dos homicídios dentro das casas são cometidos por familiares ou pessoas próximas. O resultado sempre chegava em mais armas, mais crimes. Pegamos outra coisa interessante, sempre com validade estatística e teórica. Em relação à lesão corporal, ocorre exatamente o contrário. Quanto menos armas, mais agressões. Isso revela que o cara com índole violenta entra em conflito interpessoal. Quando tem arma, dá um tiro. Provavelmente fica registrado como homicídio ou tentativa de homicídio. Sem acesso à arma, isso vira lesão corporal dolosa. Podemos concluir, então, que com menos armas, menos mortes - disse o especialista.

A pesquisa buscou saber se as armas faziam com que os roubos contra a propriedade diminuíam. Porém, não foi possível fazer essa relação estatística.

- Não é o número de armas que faz esse crime aumentar ou diminuir, mas outras variáveis.