Título: PF envia ao Rio grupo antiterror
Autor: Schmidt , Selma
Fonte: O Globo, 13/04/2011, Rio, p. 11

Apesar de tratar o caso com reservas e duvidar da participação de Wellington Menezes de Oliveira em qualquer célula terrorista, um grupo de cinco agentes federais de Brasília, do Serviço Antiterrorismo (Santer) da Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da direção-geral da Polícia Federal, desembarcou segunda-feira no Rio para revirar a vida do autor dos tiros que mataram 12 crianças e feriram outras 12 na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Os policiais analisam documentos, e-mails e imagens gravadas pelo assassino explicando o crime. Para identificar possíveis membros de um suposto grupo frequentado pelo atirador, técnicos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), da Polícia Civil do Rio, estão usando um software desenvolvido pelo FBI.

Assassino teria ido duas vezes a mesquita no Centro

Segundo os agentes federais, embora Wellington não seja muçulmano e não tenha ligação direta com a religião, ele frequentou pelo menos duas vezes uma mesquita no Centro do Rio, atualmente fechada. Os agentes informaram ter apresentado à Justiça um pedido para ter acesso e compartilhar informações e documentos já obtidos pelos policiais civis do Rio.

- Não temos atribuição de abrir inquérito por uma falha da legislação. Embora seja considerado pela Constituição um crime hediondo, o terrorismo não tem tipificação penal. A lei não foi regulamentada. Por isso podemos acompanhar, investigar, mas não abrir inquérito - explicou um policial federal de Brasília ao GLOBO.

Em depoimento anteontem à polícia, um sobrinho de Wellington contou que o assassino se relacionava com uma espécie de orientador espiritual. Ele disse ao "RJ-TV" que seu tio mencionou num e-mail uma pessoa, um xeque, que tirava as dúvidas dele sobre o Alcorão. Esse sobrinho deve prestar novo depoimento na presença de agentes federais.

Técnicos do ICCE estão usando o software desenvolvido pelo FBI para recuperar as informações contidas nos computadores apreendidos na casa de Wellington. O programa Encase, fornecido pela Techbiz Forense Digital, possibilita a recuperação até de arquivos que tenham sido apagados pelo atirador. Dois dos três HDs, os discos de memória dos equipamentos, estão em melhores condições.

O terceiro HD foi parcialmente queimado e, como o ICCE não tem equipamentos para recuperar as informações contidas nele, uma empresa privada se ofereceu para tentar ajudar no caso. Diretor do Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica, o delegado Sérgio Henriques disse que os peritos priorizaram a recuperação de dados dos dois HDs que estavam em melhor estado de conservação. Com relação ao perfil psicológico do atirador, Henriques disse que um psiquiatra forense do Instituto Médico-Legal (IML) já está analisando os manuscritos deixados pelo atirador.

Perfil de Wellington ficará pronto em 20 dias

Com base no material recolhido, o psiquiatra forense vai elaborar um laudo, que será submetido a outro especialista do IML. Segundo Henriques, o perfil de Wellington deve ficar pronto em 20 dias.

As investigações da Polícia Civil indicam que Wellington teria recebido seguro-desemprego até dezembro. Os policiais civis e federais esperam o resultado da quebra do sigilo dos telefones (fixos e móveis), dos e-mails e da página de Wellington no Orkut. Oito operadoras já foram oficiadas, devendo informar os dados cadastrais dos assinantes que efetuaram ou receberam ligações entre o dia 7 de janeiro e 7 de abril deste ano, período em que Wellington morou na Rua José Fernandes, em Sepetiba. A medida atinge as empresas Oi, Google, Microsoft Corporation (dona do Hotmail), Claro, Vivo, Tim, Nextel e Vesper Embratel.