Título: No estilo de um homem-bomba
Autor: Schmidt , Selma
Fonte: O Globo, 13/04/2011, Rio, p. 11

No melhor estilo homem-bomba, o assassino Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, gravou dois vídeos, supostamente na terça-feira, 5 de abril, dois dias antes do ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, onde matou 12 alunos e feriu outros 12. Ele usou a mesma tática de terroristas: deixou mensagens gravadas procurando justificar o massacre. Nas imagens, mostradas ontem à noite pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, Wellington parece dopado e fala muito devagar. A impressão é que ele mesmo gravou os vídeos, possivelmente com um celular.

Nas imagens, Wellington está sem barba e contra um muro cinza, de cimento chapiscado. Há um som de crianças em algazarra ao fundo, sugerindo que possa haver uma escola bem próxima. A filmagem pode ter sido feita, segundo policiais, na casa do assassino, em Sepetiba, onde há uma escola e uma creche nos arredores. O local da gravação e a fisionomia do assassino são os mesmos da foto do perfil atribuído a ele no site de relacionamentos Orkut, já tirado do ar.

"Luta contra pessoas cruéis"

Ao falar sobre os motivos do crime no primeiro vídeo, Wellington responsabiliza pessoas "covardes": "A luta pela qual muitos irmãos no passado morreram, e eu morrerei, não é exclusivamente pelo que é conhecido como bullying. A nossa luta é contra pessoas cruéis, covardes, que se aproveitam da bondade, da inocência, da fraqueza de pessoas incapazes de se defenderem", disse ele na gravação. A polícia também encontrou cartas na casa de Wellington em que ele escreve sobre bullying e ataques terroristas.

Os detalhes de como foi o planejamento da chacina são dados por Wellington no vídeo. Ele explica, inclusive, que retirou a barba de forma premeditada: "Os irmãos observaram que eu raspei a barba. Foi necessário, porque eu já estava planejando ir ao local para estudar, ver uma forma de infiltração. Eu já tinha ido antes, há muitos meses. Eu fui. Eu ainda não usava barba. Eu fui para dar uma analisada", conta o assassino.

Wellington revela ainda que esteve na escola dias antes do massacre. "Hoje é segunda, terça-feira, aliás. Eu fui ontem, segunda. Hoje é terça-feira, dia 5. E essa foi uma tática para não despertar atenção. Apesar de eu ser sozinho, não ter uma família praticamente... Eu vivo sozinho, não tenho pessoas a dar satisfação. Mas, como eu precisava ir ao local e interagir com pessoas, para não chamar atenção, eu decidi raspar a barba". Os pais adotivos de Wellington já morreram, mas ele tem cinco irmãos de criação.

Gravar vídeos anunciando seus crimes também foi uma atitude do responsável pelo maior massacre em escolas nos Estados Unidos, o estudante sul-coreano Cho Seung-Hui, que matou 32 pessoas e cometeu suicídio em dois ataques no dia 16 de abril de 2007 no Instituto Politécnico e Universidade Estadual de Virgínia, conhecido como Virginia Tech. Dois dias depois do massacre, a rede de TV NBC recebeu um pacote enviado pelo atirador. Dentro, fotos, um texto e um vídeo no qual Cho se comparava a Jesus. O vídeo fora gravado seis dias antes do massacre e enviado pelo próprio assassino às 9h01m do dia 16, no intervalo entre os ataques.