Título: Da China para o Brasil
Autor: Scofield Jr , Gilberto
Fonte: O Globo, 13/04/2011, Economia, p. 17

O milionário taiwanês Terry Gou, fundador da fabricante de produtos eletrônicos e computadores Foxconn, comunicou ontem à presidente Dilma Rousseff, durante sua viagem a China, que Steve Jobs, da Apple, autorizou à empresa a fabricar iPads 2 no Brasil a partir de novembro. A informação foi dada pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante. A empresa também vai investir US$12 bilhões num complexo fabril no país - o projeto foi o maior acordo obtido pela missão brasileira a Pequim. No front político, o país também obteve uma vitória: o comunicado conjunto de Dilma e do presidente chinês, Hu Jintao, menciona apoio à aspiração do Brasil por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, em gesto que foi comemorado pela diplomacia brasileira.

A Foxconn - maior exportadora da China, que faturou US$100 bilhões em 2010 e está em 14 países, com 1,3 milhão de funcionários - tem cinco fábricas no Brasil, em Manaus (AM), Santa Rita do Sapucaí (MG), Jundiaí, Taubaté e Indaiatuba (SP). A fabricação do iPad no Brasil deve baratear o produto no mercado nacional.

O investimento de US$12 bilhões previsto pela empresa em cinco anos será na construção de um complexo fabril para a produção de displays eletrônicos para todos os equipamentos que usam telas. Hoje, estes componentes são importados. Será a primeira grande fábrica de telas do Ocidente - empreitada que vai gerar 100 mil empregos, no estilo do Parque de Ciência e Tecnologia de Longhua, na China, a Cidade Foxconn: 3 km2 com 15 fábricas, dormitórios e condomínios, colégio, bancos e shopping.

Mercadante afirmou que a presidente ordenou a criação de um grupo de trabalho composto de representantes dos ministérios de Fazenda, Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, além do BNDES, para viabilizar o projeto, que terá sócios nacionais, incluirá transferência de tecnologia dos chineses e exigirá contrapartidas brasileiras, como investimento em infraestrutura, isenções fiscais e financiamentos a juros menores.

Tablets ficariam em SP. Telas, em Manaus

A escolha do Brasil, afirmou o ministro, deveu-se a vários fatores: a necessidade de ter produção nas Américas; o fato de o país ser o terceiro maior mercado de tecnologia da informação do planeta; a venda, em 2010, de 13,5 milhões de computadores; o crescimento econômico; e a proximidade de grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A Foxconn produz equipamentos eletrônicos para empresas como Apple, HP, Sony, Cisco, Ericsson, entre outras.

- Nós vínhamos negociando um investimento em tecnologia da informação com a Foxconn nos últimos três meses, mas, quando vimos a proposta de Terry Gou, até nós ficamos surpresos com a ambição do projeto - disse Mercadante.

O investimento da Foxconn em cinco anos equivale a quase a totalidade dos aportes chineses no Brasil em 2010 - de US$12,9 bilhões - e deve consolidar o país como o maior investidor direto na economia brasileira. De quebra, deixa feliz o governo brasileiro, que desde o início da viagem pela China vinha batendo na tecla de que a relação deveria se pautar para além da complementaridade entre as duas economias e que os chineses deveriam investir não só em recursos naturais e energia, mas também em tecnologia.

- Deixamos claro à China a importância de se agregar valor aos produtos vendidos pelo Brasil. Para nós, importa uma parceria na área de ciência e tecnologia porque estamos em estágios parecidos de desenvolvimento e a parceria pode permitir um salto qualitativo, especialmente na área de tecnologia da informação, onde fechamos os investimentos da Huawei e Foxconn - disse Dilma

A visita da presidente termina hoje com um balanço de 22 acordos, US$120 milhões em negócios e US$13 bilhões em investimentos, disse o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Segundo uma fonte que acompanha as negociações, Foxconn e Apple só decidirão onde será a unidade para o iPad 2 após negociar com os estados. Vencerá o que der mais incentivos:

- Ainda não há nada decidido. Porém, há uma preferência do setor por montar as operações de tablets em São Paulo. Já a fábrica de componentes para o setor, como telas e equipamentos, deverá ficar em Manaus, onde já uma infraestrutura.

A taiwanesa chegou ao Brasil em 2005, com uma fábrica de telefones celulares em Manaus. Suas cinco fábricas no país pertencem a empresas diferentes, mas todas têm contrato com a Foxconn. Empregam cerca de 4.300 pessoas e produzem para marcas como Sony, HP e Dell, entre outras. Os equipamentos da Apple, entretanto, só são produzidos na China. COLABORARAM Bruno Rosa e Ronaldo D"Ercole