Título: China acena com apoio ao Brasil em vaga na ONU
Autor: Oliveira , Eliane
Fonte: O Globo, 13/04/2011, Economia, p. 19
Brasil e Pequim. Pela primeira vez, a China concordou em mencionar, no comunicado conjunto divulgado pelos presidentes Hu Jintao e Dilma Rousseff, a aspiração brasileira a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Brasil, por sua vez, reiterou o compromisso de acelerar o processo de reconhecimento da China como economia de mercado, decisão que ainda depende de regulamentação no Ministério do Desenvolvimento e aval do Congresso Nacional.
Junto com americanos, russos, franceses e britânicos, os chineses fazem parte do seleto grupo de membros que têm direito a veto nas decisões do Conselho de Segurança da ONU e, ainda, gozam de mandato duradouro, e não rotativo, como os demais associados das Nações Unidas. No comunicado, a China defende a maior participação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança. De acordo com um dos negociadores do documento, o Estado chinês evitou, com isso, uma saia justa em relação ao Japão: que também pleiteia uma vaga permanente, mas é tido como inimigo moral dos chineses.
¿A China atribui alta importância à influência e ao papel que o Brasil, como maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, tem desempenhado nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apoia a aspiração brasileira de vir a desempenhar um papel mais proeminente nas Nações Unidas¿, diz a declaração conjunta.
Na avaliação de um alto funcionário do Itamaraty, essa foi a segunda vitória de Dilma em relação ao tema. Durante a visita do presidente dos EUA, Barack Obama, ao Brasil, o governo americano concordou em deixar expresso, no comunicado final, seu ¿apreço¿ pela candidatura brasileira. Os EUA e a China eram os que mais resistiam à ideia de reforma da ONU.
- Não há como negar que é um fato bastante positivo - disse ex-embaixador do Brasil nos EUA Rubens Barbosa.
Como fez há um ano, quando apenas informou que trataria do caso rapidamente, o governo brasileiro não avançou em relação ao reconhecimento da China como economia de mercado.
O texto do comunicado divulgado ontem faz uma ligação entre a disposição chinesa de diversificar suas vendas e investimentos no Brasil ao compromisso, por parte do governo brasileiro, de acelerar o reconhecimento da China como economia de mercado.
¿(Brasil e China) Reconheceram a necessidade de intensificar o diálogo sobre as estruturas de comércio e investimentos e sobre a diversificação do comércio bilateral. A parte chinesa manifestou disposição de incentivar suas empresas a ampliar a importação de produtos de maior valor agregado do Brasil. A parte brasileira reafirmou o compromisso de tratar de forma expedita (rápida, ágil) a questão do reconhecimento da China com economia de mercado nos termos estabelecidos no Plano de Ação Conjunta 2010-2014¿, diz o texto, ainda que os diplomatas neguem um condicionamento entre um e outro ponto.
Em Brasília, nos bastidores, o que se diz é que as pressões chinesas para que o Brasil formalize o status de economia de mercado, dado ao país em 2004, diminuíram e deixaram de ser prioridade, por eles saberem que isso não acontecerá.
- Os chineses perceberam que uma relação só vai para frente quando beneficia os dois lados e está aberto um novo caminho que precisa ser construído. Tem uma parte que é nossa: termos cuidado de agregar valor aos nossos produtos antes de exportar e não achar absolutamente natural que a gente exporte só produtos básicos, que a gente tire do chão a riqueza e exporte - disse Dilma.