Título: As mulheres no poder também na Câmara
Autor: Castro, Juliana
Fonte: O Globo, 14/04/2011, O País, p. 4

A deputada federal Rose de Freitas já não era uma recém-chegada na política quando, em 1988, participou da fundação do PSDB. Em 2003, depois de 15 anos no partido, mudou-se para o PMDB, da base do governo Lula. Era o passaporte para que, ontem, fizesse história na Câmara, como a primeira mulher a assumir a presidência da Casa, mesmo que interinamente.

Mineira de nascimento e capixaba por opção, Rose foi eleita deputada com 96.454 votos no ano passado. Este ano, foi escolhida vice-presidente da Câmara, graças à aliança entre peemedebistas e petistas. Com isso, tornou-se a primeira mulher a integrar, como titular, a direção da Casa. Aos 62 anos, conseguiu a indicação na divisão dos cargos da Mesa Diretora entre a base aliada do governo Dilma. Por isso, enquanto o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), viaja à Espanha - visita que incluirá uma esticadinha no clássico entre Real Madrid e Barcelona, junto com o filho - a parlamentar assume o comando da Casa até domingo.

- Tenho certeza absoluta de que nós, mulheres, somos mais observadas que os homens - diz Rose.

A inspiração atual da deputada pode até ser a presidente Dilma Rousseff, por também ser mulher. Mas, por muito tempo, o exemplo de Rose foi mesmo Fernando Henrique Cardoso. Amiga do tucano desde a criação do PSDB, ela era tida por muitos como "a sombra" do ex-presidente durante boa parte do período em que ele esteve no poder. Chegou, inclusive, a ser assessora da Presidência na gestão do amigo.

- Apoiava Fernando Henrique porque era um momento importante. A estabilidade da economia veio desta época - diz Rose, que disse não ter visto ou conversado com o amigo ultimamente. - Porque apoio agora o governo Dilma, não tenho que romper com Fernando Henrique, de maneira nenhuma - completa.

Assim que a nova Mesa da Câmara foi eleita, O GLOBO fez um levantamento sobre os bens dos escolhidos, e nove dos 11 componentes tinham obtido significativa evolução patrimonial. Rose foi quem apresentou a maior variação de patrimônio. Os bens da parlamentar somavam R$972 mil no ano passado, mais do que o triplo do que a peemedebista havia declarado em 2006, quando informou ter um patrimônio de R$303 mil. À época, Rose justificou-se dizendo que, a cada declaração anual de Imposto de Renda, o valor de seus imóveis era atualizado. A correção, porém, é proibida pela Receita Federal.