Título: Combustível põe lenha na fogueira da inflação
Autor: Beck, Martha; Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 15/04/2011, Economia, p. 25

Aumento de "commodities" e de preços administrados também preocupa o governo

BRASÍLIA. A escalada dos preços dos combustíveis é um fator adicional ao temor do governo ante o comportamento da inflação neste momento, em que o IPCA acumulado em 12 meses está perto de estourar o teto de 6,5% da meta oficial. Também preocupam a equipe econômica a disparada das cotações das commodities em geral e os repasses dos reajustes, de abril e maio, dos preços administrados, entre os quais planos de saúde, água e energia elétrica.

Os preços das commodities não cedem desde o ano passado. Nos últimos 12 meses, as cotações dos produtos agropecuários subiram 58,65%, com destaque para carne bovina, algodão e trigo. Entre os metais, como alumínio, minério de ferro e cobre, a alta foi de 16,67%. No setor de energia, formado por petróleo, gás natural e carvão, o acumulado é de 22,4%, segundo dados do mercado.

Desde o mês passado, a equipe econômica vem insistindo que os preços vão ceder e devem apresentar um comportamento mais "moderado" em 2011, de acordo com o Relatório de Inflação de março, divulgado pelo Banco Central (BC). No entanto, esse movimento ainda não aconteceu.

O BC e os ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário têm trocado informações sobre o tema, para acompanhar e tentar definir uma tendência. Dizem que a inflação sempre foi prioridade e que são realizados encontros periódicos para discutir o tema.

A inflação preocupa o governo brasileiro em vários aspectos, embora exista praticamente consenso de que o país jamais voltará à década de 80, quando a economia brasileira era fechada e, portanto, com alíquotas de importação proibitivas para ajudar a combater índices acima de dois dígitos.

Produtos agropecuários devem cair no segundo semestre

No caso de produtos agropecuários, por enquanto não se trabalha com a hipótese de desabastecimento e a expectativa é de queda de preços a partir do segundo semestre deste ano, caso se confirmem as previsões de aumento de safra nos Estados Unidos e na Austrália.

Segundo técnicos da área econômica, a economia mundial deveria funcionar como uma gangorra: se os juros caem, os preços das commodities sobem, porque o dólar se valoriza. Se os juros sobem, o real se valoriza e os preços das commodities teriam de cair. A questão é que os valores desses produtos não cedem, dado o aquecimento da demanda que, por sua vez, estimula a inflação. É um fator sobre o qual o Brasil não tem qualquer controle.

Além do aquecidíssimo mercado interno no Brasil, reforçado na última década pelo crescimento do poder aquisitivo da classe média, a Ásia tem puxado os preços das commodities agropecuárias e minerais, tendo à frente a China. Outra constatação é a melhora da economia americana. Os maiores compradores de produtos brasileiros são a China e, em seguida, os EUA, o que acaba aquecendo ainda mais os negócios.