Título: Dólar poderia estar a R$1,35, afirma Mantega
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 15/04/2011, Economia, p. 27

Ministro diz que combater inflação e câmbio é difícil

WASHINGTON. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ontem a estratégia do governo para conter a valorização do real, mas admitiu que combinar isso ao combate à inflação é difícil. Em entrevista à agência de notícias Reuters, ele negou que esteja tomando medidas a "conta-gotas" e disse que um exagero poderia ser danoso. Sem as ações adotadas governo no câmbio, afirmou, o dólar poderia estar valendo agora entre R$1,35 e R$1,40. Ontem, a moeda americana fechou cotada a R$1,58.

- Você não explode uma bomba nuclear, senão os efeitos colaterais são piores que a medida em si. Temos tomado medidas severas - disse Mantega antes das reuniões do G-20 e do Fundo Monetário Internacional (FMI) nos EUA.

As afirmações foram feitas num momento em que os índices de inflação se aproximam do teto da meta fixada pelo Banco Central para 2011, de 6,5%.

- Não é fácil conseguir conter a inflação, o que significa aumentar os juros, e, ao mesmo tempo, tomar medidas para conter a valorização do real. Mas acho que temos conseguido.

Na semana passada, o governo dobrou para 3% a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para tentar desacelerar a economia. Em dezembro, o BC havia adotado medidas com o mesmo objetivo. Segundo Mantega, elas estão funcionando e é preferível aumentar a taxação sobre a entrada de dólares do que impor restrições mais severas, como uma quarentena. O Brasil, afirmou, continua querendo capital de longo prazo.

- Quando você cobra IOF, está simulando a mesma coisa. Preferimos fazer com taxação do que fazer com quarentena. Mas dá mais ou menos na mesma.

Mantega adiantou que o governo pretende estabelecer o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) como meta de superávit primário em 2012, dentro da expectativa de que a economia se expanda em 5%.

No discurso que fará amanhã, na reunião de comitê do FMI, o ministro vai criticar as políticas monetárias "ultraexpansionistas" dos países avançados como causadoras do atual excesso de liquidez global, causa de uma "de uma rápida expansão do crédito" e de um boom de preços. Além disso, "a elevação dos preços do petróleo e de commodities aumenta o custo de vida, especialmente para os mais pobres".

Mantega sublinhará a preocupação de países emergentes com a pressão inflacionária das commodities, a sobrevalorização da moeda e o forte fluxo de capitais. O Brasil defenderá seu direito a adotar medidas de controle de capitais, respostas "legítimas de autodefesa" contra efeitos nocivos das políticas monetárias dos países responsáveis pelos maiores fluxos. E considera como desnecessárias e desiguais as propostas de países avançados de imposição de um "código de conduta" para políticas de controle de capitais.

COLABOROU Fernando Eichenberg