Título: Brics pedem reforma do Conselho de Segurança
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 15/04/2011, Economia, p. 27

Além disso, países também sugerem mudanças em organismos multilaterais como FMI e Banco Mundial

SANYA (China). Os líderes dos cinco países que integram os Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - encerraram ontem seu terceiro encontro no balneário de Sanya, no Sul da China, com um comunicado em que pedem conjunta e explicitamente, pela primeira vez, mudanças no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Sem citar especificamente as pretensões de Brasil e Índia de integrarem o Conselho, o texto defende reformas na ONU para aumentar a representatividade na instituição. Além disso, os Brics pediram reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.

E num gesto que busca dissipar desconfianças, os dois únicos membros permanentes do Conselho de Segurança no Brics - China e Rússia - dizem apoiar o desejo de Brasil, Índia e África de Sul de terem mais voz na entidade. Participaram do terceiro encontro de cúpula dos Brics a presidente Dilma Rousseff; o presidente da China, Hu Jintao; o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh; o presidente da Rússia, Dmitri Medvedev e o presidente da África do Sul, Jacob Zuma.

- A reforma da ONU e de seu Conselho de Segurança é essencial. Não é possível que ao iniciarmos a segunda metade do século XXI ainda estejamos atrelados a formas institucionais erguidas no pós-guerra - disse a presidente Dilma Rousseff que, no entanto, fez questão de dizer que os Brics não trabalham contra os países desenvolvidos.

A presença do termo Conselho de Segurança no comunicado final não foi tarefa fácil para os diplomatas brasileiros e indianos, afirmou um diplomata presente às negociações. Brasil, Índia, Alemanha e Japão decidiram pleitear em conjunto um assento no Conselho de Segurança, mas a China não parece disposta a negociar a entrada do Japão e, menos enfaticamente, da Índia no Conselho. Para a Rússia, a expansão do conselho dilui o seu poder nas Nações Unidas após o esfacelamento da União Soviética e o enfraquecimento econômico da antiga potência da Guerra Fria.

Os países dos Brics criticaram também a "ameaça dos grandes fluxos de capitais" para os países emergentes, cujas taxas de juros, maiores do que as dos países desenvolvidos, atraem grande volume de recursos em busca de ganhos rápidos, provocando desequilíbrio na cotação das suas moedas.

"Apelamos a uma maior atenção diante dos riscos que representam os fluxos em massa de capitais internacionais sobre as economias emergentes", diz o comunicado dos países. Parte desse processo, dizem os países, será facilitado com mudanças no comando dos organismos multilaterais de crédito, como FMI e Banco Mundial. Para evitar que seu discurso fosse interpretado como um libelo contra os países ricos, a presidente Dilma destacou, em entrevista, o caráter "neutro" do grupo.

- A agenda dos Brics não se define por oposição a nenhum outro grupo. Queremos agregar - afirmou - Somos a favor de um mundo multipolar, sem hegemonias nem zonas de influência.