Título: Na classe média consumo em motéis e táxis
Autor: Benevides, Carolina
Fonte: O Globo, 17/04/2011, O País, p. 3
RIO BRANCO (AC). Nas noites de sexta, sábado e domingo, jovens de classe média se reúnem em motéis de Rio Branco para usar oxi. Costumam alugar os quartos, que custam a partir de R$17, por mais de um dia. Esses jovens também alugam, por R$70 reais a hora, táxis iluminados com neon nas laterais internas, no piso e no teto, equipados com aparelhos de som potentes, como os usados em bailes funk. Eles circulam pelas ruas da capital a mais de 100 quilômetros por hora. Os taxistas que reformam seus carros sabem que o lucro é certo:
¿ O movimento começa na quinta-feira, eles entram depois de usar drogas e dizem o itinerário que querem fazer. Modificar o carro é proibido, mas fazemos porque o lucro é bom ¿ conta um taxista que não quis se identificar e estava parado, com outros dois, na antiga rodoviária, na noite de quarta-feira passada.
¿Não importava mais viver ou morrer¿
Internado na comunidade terapêutica Caminho de Luz, em Santa Helena, no Acre, o carioca Jonas Oliveira Santos, de 40 anos, sempre teve uma vida confortável. Foi para o Acre com a namorada e lá conheceu o oxi.
¿ Já usava droga no Rio, mas o oxi me dava mais prazer que todas as outras. É barata, fácil de achar e até de trocar por qualquer coisa ¿ conta Jonas, que tenta parar há dois anos e dois meses, se separou da mulher e raramente vê o seu filho. ¿ Eu me internei, mas resolvi sair, aluguei um apartamento e usava todo dia. Tinha dinheiro para comida, mas preferia comprar pedra. Comecei a furtar. Em um mês fui de 86 para 55 quilos. Daí, vi que ia morrer e vim para a clínica, fiquei três dias no soro, meu estômago parecia atrofiado. Mas a abstinência me dá muita vontade ¿ conta ele, que toma chá de ayahuasca para conter a vontade:
¿ Não sou ninguém, não consigo planejar nada. Meu tratamento, eu sei, tem que ser prolongado.
Na mesma clínica, Irivan Lima do Nascimento, de 25 anos, tenta há 30 dias se livrar do vício. Ele começou a usar esporadicamente, passou a traficar ¿ chegou a enviar duas toneladas de droga para Rio Branco, e perdeu o controle.
¿ Você usa oxi uma vez e quer usar duas, cinco, dez, vinte vezes. Meu pai, que é fazendeiro, mexe com gado, chegou a me dar quatro motos e perdi todas. Com a droga, fiquei viciado também em jogo ¿ conta Irivan. ¿ Eu nunca roubei, mas passei a usar na frente da minha família, fiquei agressivo, não importava mais viver ou morrer. Eu não tinha medo. Pensava: se for para ter medo, eu não vou mexer com isso. Quis parar porque pensei que do jeito que ia não veria meu filho, de 11 meses, crescer.