Título: Estreita-se o espaço para o Copom
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Fonte: O Globo, 17/04/2011, Opinião, p. 6

Criado em 1996 como decorrência da estabilização econômica, iniciada dois anos antes com o Plano Real, o Conselho de Política Monetária (Copom), do Banco Central, costuma ter reuniões sem gerar maiores expectativas em torno delas. Peça básica num modelo de atuação transparente de banco central, o Copom, assim como o seu principal modelo, o Federal Open Market Comittee (FOMC), do Fed, banco central americano, divulga atas dos encontros (o Copom dos EUA até grava as reuniões) - sempre esmiuaçadas pelos analistas em busca de tendências de atuação futura da autoridade monetária -, bem como relatórios trimestrais sobre a inflação. Os textos, ao exporem justificativas para decisões tomadas sobre a taxa básica de juros (Selic), contribuem para vacinar os mercados contra boatos, rumores. E ajudam na formação de expectativas, elemento-chave nas economias.

Não é desconhecido, portanto, que o Banco Central no governo Dilma Rousseff tenta conciliar o combate a um surto inflacionário preocupante com a manutenção de uma taxa de crescimento razoável - algo na faixa dos 4% a 5%. O objetivo é nobre, merece o apoio de todos. A questão é saber se dará certo.

Até agora, os indícios não animam. Em troca de uma dose maior de juros, o BC - no que tem o apoio do Ministério da Fazenda - e o próprio ministério trabalham com medidas "prudenciais", o novo jargão criado para designar todo tipo de aperto creditício. Reconheça-se que as duas elevações da Selic em 0,5 ponto percentual condizem com a conjuntura. As dúvidas se referem ao futuro.

Sucede que os aumentos de IOF sobre o crédito, o mecanismo alternativo a aumentos mais vigorosos dos juros, não tem reduzido - pelo menos até agora - a busca por financiamento. E com isso o consumo continua aquecido, a impulsionar os preços.

Levantamento do GLOBO feito junto a grandes varejistas indicou a repetição de um conhecido costume brasileiro: se a prestação couber no orçamento familiar, não importa o tamanho dos juros, nem dos impostos. É o que vem acontecendo. E, como a renda se mantém em alta, a ampliação das dosagens de IOF ainda não produziu o efeito pretendido pela dupla Fazenda/BC: o arrefecimento da inflação, sem a necessidade de maiores aumentos da Selic, com os inevitáveis efeitos no nível de atividade e, também, no lado fiscal, por meio do crescimento da conta de juros da dívida pública. Supõe-se que o assunto ocupe o centro da pauta de discussões na cúpula do BC e na equipe econômica com vistas à próxima reunião do Copom, nesta semana. Os juros continuarão a subir 0,5 ponto percentual ou a calibragem será reduzida para 0,25 ponto, coerente com a visão light pró-medidas "macroprudenciais"?

Daí envolver esta próxima rodada de Copom - terça e quarta - um clima de razoável expectativa. A mistura de instrumentos de aperto creditício com elevação em dosagens menores dos juros é sedutora. Mas ela depende muito de o governo fazer de fato os cortes nos gastos prometidos por um programa de ajuste cuja credibilidade ainda se encontra em teste. Enquanto isso, o tempo passa, a inflação promete ultrapassar o limite superior da meta anual (6,5%), e as engrenagens da indexação contratam uma inflação longe do centro da meta (4,5%) para 2012. Estreita-se o espaço para o Copom agir.